
A Economia dos Criadores Está a Crescer: A nova era da criatividade digital
Durante muito tempo, o Web Summit foi visto como o evento dos fundadores de startups e investidores de tecnologia. Mas, nos últimos anos, tornou-se também um ponto de encontro para criadores de conteúdo. Entre talks sobre inteligência artificial, blockchain e Fintech, multiplicam-se as conversas sobre storytelling, construção de audiência e o futuro da produção de conteúdo enquanto indústria.
Em 2025, essa mudança foi impossível de ignorar. Nos palcos ouviram-se empreendedores digitais, YouTubers, jornalistas e estrategas de marca a discutir como a tecnologia está a redefinir a criatividade, desde os algoritmos que afetam quem vê o conteúdo até às plataformas de tecnologia financeira que mudam como os criadores são pagos.
A conversa já não é sobre se o trabalho de criador é uma profissão, mas como está a mudar a cultura de trabalho em todo o mundo.
Foi neste contexto que a Visa apresentou o estudo Monetized: The 2025 Creator Report, trazendo dados concretos para aquilo que muitos de nós já sentimos: a economia dos criadores não é uma moda passageira, é uma indústria em crescimento.
A economia dos criadores entrou oficialmente numa nova era. O que começou como um hobby para contadores de histórias apaixonados evoluiu para um ecossistema de milhares de milhões que está a moldar a forma como trabalhamos, ganhamos e nos ligamos ao mundo.
Na Web Summit deste ano, as conclusões da Visa vieram confirmar algo que os criadores já sabem bem: a criação de conteúdo não é apenas um hobby, é um negócio. E veio para ficar.

Uma força de trabalho global em crescimento
De acordo com a pesquisa da Visa, existem hoje 200 milhões de criadores em todo o mundo, e 88% esperam ver as suas receitas crescer no próximo ano.
Mais do que isso, 76% afirmam não sentir pressão para seguir uma carreira tradicional, e 68% já se consideram pequenos empresários.
Esta mudança representa uma revolução cultural. O que antes era visto como um caminho alternativo tornou-se uma profissão reconhecida, construída sobre criatividade, competências digitais e empreendedorismo.
Para quem cria conteúdo de viagem, este reconhecimento é importante porque mostra que todo o tempo passado a editar vídeos em comboios noturnos ou a escrever textos em lobbies de hotel é trabalho real.
Autodidatas e sempre a aprender
O relatório mostra que a maioria dos criadores é engenhosa. Quase metade aprendeu sozinha a gerir o negócio. Além disso, 71% admitem não ter formação em gestão financeira, enquanto 66% nunca estudaram estratégia de negócio.
É uma história comum. Aprendemos a contar histórias, a filmar, a editar e a criar uma comunidade, mas a parte empresarial geralmente vem depois. Coisas como contratos, impostos, preços e parcerias são um grande desafio para muitos criadores.
As conclusões da Visa mostram uma lacuna que muitos de nós sentimos: os criadores dominam o trabalho criativo, mas querem ajuda para geri-lo como um negócio duradouro. É por isso que aprender uns com os outros e ter conversas abertas em eventos como o Web Summit é tão valioso.
Das parcerias às subscrições: como os criadores ganham dinheiro
A monetização continua a estar no centro da economia dos criadores, mas está a mudar rapidamente.
Os dados revelam que:
As colaborações com marcas continuam a ser o motor principal das receitas, mas também expõem a fragilidade do setor: a imprevisibilidade. As campanhas acabam, os orçamentos mudam e os pagamentos nem sempre chegam a tempo.
Por isso, o crescimento dos modelos de subscrição e dos produtos digitais é tão relevante. Essas opções proporcionam aos criadores uma renda estável e mais controle sobre o seu público. No caso dos criadores de viagens, isso pode significar oferecer guias de viagem, fazer conteúdos exclusivos dos bastidores ou montar roteiros personalizados. Estas são formas reais de transformar a criatividade em negócio consistente.

Uma lição vinda do Web Summit
A própria ativação da Visa no Web Summit foi um microexemplo de como as marcas estão a explorar novas formas de interação com criadores. Os participantes podiam tirar uma fotografia num photo booth e, se a publicassem nas redes sociais identificando a marca, recebiam um cartão com 10 €.
Dez euros podem parecer pouco, mas a ideia é poderosa: todos eram compensados, quer tivessem dez seguidores ou dez mil. É um gesto simbólico, mas importante, que reforça algo que sempre defendi: qualquer conteúdo que promova uma marca deve ser pago.
Por detrás de cada publicação há tempo, criatividade e influência, mesmo que junto de uma comunidade pequena. O reconhecimento através de remuneração justa é o que torna esta indústria verdadeiramente profissional.

Finanças simples (talvez simples demais)
Outro ponto revelador do estudo é o modo como os criadores gerem o dinheiro.
Uns impressionantes 86% financiam o seu trabalho com poupanças ou cartões pessoais, e 62% usam contas bancárias pessoais para gerir o rendimento.
Esta simplicidade torna as coisas acessíveis, mas também mostra que não há ferramentas financeiras adaptadas à realidade dos criadores. Os bancos tradicionais ainda têm dificuldade em compreender como encaixam os pagamentos irregulares, as parcerias ou as comissões de afiliados nos seus modelos. Aqui há espaço para as Fintech inovarem e criarem soluções ajustadas à forma como os criadores realmente ganham e gastam.
Velocidade e flexibilidade: o que os criadores pedem
Os atrasos nos pagamentos continuam a ser uma das maiores frustrações.
Cerca de 30% dos criadores querem cartões que ofereçam acesso mais rápido aos fundos e maior flexibilidade nas transações.
Os pagamentos atrasados não causam apenas stress. Eles também afetam os calendários de produção, o pagamento de contas e a oportunidade de aproveitar tendências virais assim que elas surgem.
Num setor definido pela agilidade, pagamentos lentos são como turbulência em pleno voo.

O que isto significa para os criadores de conteúdos de viagens
À medida que a economia dos criadores amadurece, os criadores de conteúdos de viagens ocupam uma posição única no cruzamento entre inspiração e empreendedorismo. Vivem entre fusos horários, culturas e plataformas digitais.
A principal mensagem deste relatório é clara: o nosso trabalho tem valor real e os sistemas à nossa volta, desde bancos a marcas, estão a começar a perceber isso.
Mas o próximo grande salto da indústria não virá de algoritmos nem de novas plataformas. Virá de nós, criadores, quando passarmos a encarar o nosso trabalho como um negócio: com estratégia, limites e conhecimento financeiro.
Reflexão final
Hoje, ser criador de conteúdos de viagens já não é apenas colecionar carimbos no passaporte. É construir um negócio baseado em autenticidade, criatividade e valor justo.
Este relatório vem apenas confirmar o que já sabíamos: estamos num ponto de viragem.
O mundo está, finalmente, a reconhecer aquilo que os criadores mostram há anos: o storytelling, quando feito com propósito, merece ser valorizado.