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Corvo – Viagem à ilha mais isolada dos Açores

Antigo moinho na Ilha do Corvo
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“Vais ficar no Corvo?…” Já nem sei quantas vezes ouvi esta pergunta acompanhada por um olhar incrédulo.

Quando decidi fazer mais uma viagem aos Açores e ir conhecer desta vez outras ilhas, tinha inicialmente em mente o triângulo central — Faial, São Jorge e Pico —, mas como tinha duas semanas e meia para gastar, rapidamente as Flores e o Corvo se juntaram à festa. E porque não ficar a dormir no Corvo?…

Num impulso marquei o encaminhamento da SATA de Ponta Delgada para lá (ver caixa), só para depois descobrir que a maioria dos visitantes faz excursões das Flores para  conhecer o Corvo e que são apenas necessárias poucas horas para dar a volta à ilha.

Mas, repito, porque não ficar lá a dormir?… foi o que fiz.

Como chegar ao Corvo

Pode comprar bilhete directo e fazer escala no Faial ou nas Flores. No meu caso, achei mais barato comprar um voo normal para Ponta Delgada, em São Miguel, e pedir o encaminhamento da SATA. Basta ligar-lhes, dar os dados de voo de chegada aos Açores e pedir o encaminhamento gratuito para qualquer ilha.

A Atlânticoline é a empresa de ferrys que faz a ligação entre ilhas. Consulte sempre os horários de acordo com os seus dias de viagem. Não há barcos a toda a hora, nem todos os dias. Os horários mudam consoante os meses, por isso, consulte-os sempre.

Existem empresas que fazem tours para o Corvo, a partir das Flores. No meu caso, fiz o tour eu mesma, mas todos falam bem da OC Experience.

Chegada à Ilha do Corvo

Ir para São Miguel e pedir o encaminhamento para o Corvo foi a minha opção. Como era apenas uma noite, decidi ficar mais afastada do centro da cidade por uma questão de custo e encontrei um alojamento local super simpático: o LC-House. 

Confesso que a minha escolha prendeu-se inicialmente pelo preço e pela decoração que vi nas fotos, mas logo a simpatia do João e a limpeza do espaço conquistaram-me. Já há algum tempo que não ficava num alojamento com casa de banho partilhada e isso era o que me deixava mais de pé atrás, mas resultou tudo muito bem ☺️.

De volta ao aeroporto no dia seguinte, lá apanhei o voo para o Corvo, com paragem no Faial.
O pequeno avião de hélices parecia ser de brincar, se pensar nos grandes aviões que costumo apanhar para fazer as minhas viagens internacionais. Apenas me lembro de ter andado num parecido quando fui até Marrocos, em 2019.

Avião Sata Ilha do Corvo

Não há voos diretos para o Corvo. O voo vai para a ilha das Flores e pelo caminho faz paragem no Faial e no Corvo. Tinha quase a certeza que eu devia de ser a única pessoa a sair no Corvo. Quer dizer, eu e o Nuno, já que ele se ia juntar a mim no Faial.

A ilha do Corvo é de todas as ilhas dos Açores a mais inóspita, a mais isolada, aquela que se vê em quatro horas de tão pequena. Mas nela moram cerca de 350 pessoas, numa pequena vila, a única que recebe com estadia e alimentação quem decide pernoitar.

São 350 pessoas que decidiram não sair dali e continuar a chamar o Corvo de casa. Exemplo disso são o Joe e a Vera, proprietários do Joe & Vera’s Vintage Place, um dos dois únicos lugares existentes na ilha para reservar estadia. Mas já lá vamos.

Estadias no corvo

Joe & Vera’s Vintage Place

Alojamento local onde fiquei e que, por isso, recomendo.

Comodoro

Mais parecido com um hotel

A pequena aerogare do Corvo fica colada à povoação, tratando-se de uma pista com uma casinha de apoio. Não é preciso mais, já que não são muitos os que desembarcam aqui, pelo menos na altura em que fui.

Chegar com pranchas de surf à ilha é já por si só factor de estranheza e comentário. 

“Não se faz surf por aqui!”, ouvimos de um lado.

“Houve um rapaz que veio uma vez e acho que andou lá para o outro lado da ilha”, comenta outro.

A verdade é que andamos sempre com as nossas pranchas, na esperança de apanhar umas ondas, e se nunca ninguém as tiver feito tanto melhor. Porém, o Corvo é de facto muito inóspito para a prática deste desporto. Talvez com muito mais tempo, um barco, a maré e o swell certo possa haver algumas boas ondas para explorar. Mas não foi o caso. Aliás, haviam umas pequenas ondulações que implicam um certo slalom pelo meio de pedras, mas as dezenas de caravelas portuguesas que encontrámos à beira da água foram um sinal dissuasor.

Não obstante, o facto de termos chegado munidos de pranchas foi o melhor icebreaker do mundo, dando motivo para longa conversa com os habitantes do Corvo.

Caravelas Portuguesas na Ilha do Corvo
Caravelas Portuguesas encontradas na praia
Vista sobre a vila do Corvo
Vista sobre a vila do Corvo

“Cá está o meu homem da prancha!”, disse o Sr. Fernando de sorriso rasgado.

O responsável do Corvo Tours tinha sido um contacto passado por uma fotógrafa que tinha cá andado semanas antes. Em boa hora nos disse para o contactarmos, porque o Sr. Fernando foi o verdadeiro anfitrião do Corvo.

Faz dos tours a sua vida. Leva os turistas que chegam de barco vindos das Flores para o topo do Caldeirão da Ilha do Corvo, a grande cratera que encanta quem cá vem e é a grande atração do sítio. Leva-os, mete conversa, brinca com eles e volta a devolvê-los ao barco passadas algumas horas.

“Por causa disto conheço muita gente. O meu dia está cheio de despedidas. Hoje já não me custa, despeço-me e pronto. Mas antes custava-me muito”, diz.

Este é um belo exemplo das gentes do Corvo. Entregam-se a quem os visita, querem proporcionar-lhes a melhor experiência da ilha que tanto os orgulha. Esta é uma grande família, onde muitos são irmãos, primos ou sobrinhos, e quando o não são passam a ser por afinidade.

“Esta menina é minha sobrinha. Quer dizer, não é na verdade, mas é como se fosse. Todos os dias falo com ela”, conta Fernando ao apresentar-nos a uma bonita rapariga da vila.

Deixa-nos à porta do alojamento onde vamos ficar, que, por coincidência, “é da minha filha!”

Vera recebe-nos com a simpatia que, depois de uma hora na ilha, já esperávamos. O seu alojamento, colado à bonita Igreja do Corvo, é encantador. Muito clean e decorado com simplicidade e bom gosto.

“Tirei a bicicleta daquela casota para poderem lá guardar as pranchas e ficarem mais à-vontade dentro do quarto. Não se preocupem que ninguém as leva”, diz-nos. Curioso porque nunca lhe comentei que iríamos chegar com pranchas de surf… mas as notícias correm depressa na pequena ilha do Corvo.

Vila do Corvo
Vila do Corvo vista a partir do Porto de Pesca
Moinhos na Ilha do Corvo
Antigos moinhos na Ilha do Corvo

À descoberta do Caldeirão do Corvo

Há duas grandes atrações no Corvo: ver o Caldeirão do Corvo e fazer o trilho da Cara do Índio. Fiz as duas e são incríveis!

Há duas formas para chegar ao Caldeirão. A pé, a partir da vila, ou de van. Optámos pela segunda e lá seguimos viagem com o Sr. Fernando, estrada acima, contando-nos histórias do seu tempo, anedotas e partidas que já pregou.

“Agora vou pedir-vos que fechem os olhos e não abram até que vos diga”, disse-nos e nós cumprimos… “Podem abrir!”

Caldeirão do Corvo
Vista sobre o Caldeirão do Corvo

À nossa frente tínhamos a grande cratera do vulcão que deu origem à formação da Ilha do Corvo. De vertentes muito verdes e um grande lago com ilhotas, o Caldeirão é impressionante.

O trilho do Caldeirão leva os visitantes ao centro da cratera, bem junto da água que ali se acumula com a chuva que volta, não volta, cai. O tempo do Corvo é mesmo assim. As várias estações num só dia.

Há quem faça só a descida da encosta e quem percorra o lago todo à volta. Depois é voltar a subir e iniciar a descida para a vila. Também aqui podemos apanhar uma boleia de van ou caminhar até à vila pé. Eu aconselho a segunda, já que proporciona umas vistas incríveis e permite conhecer mais de perto os campos verdes do Corvo.

Caldeirão da Ilha do Corvo
Detalhe do Caldeirão da Ilha do Corvo
Encontrado pelos caminhos perto do Caldeirão

A meio da descida até à vila, num dos caminhos de reentrância, existe a estrada que nos leva à porta de entrada para o Trilho da Cara do Índio. Uma pequena cancela de madeira que, depois de transposta, nos abre um novo mundo imenso de verde, recortado com cercas de pedra e que conduz até à orla marítima.

Estar atento às marcas de trilho é essencial, uma vez que há viragens que têm que ser feitas sob o risco de nos perdermos pelos campos povoados por dezenas de vacas.

Entrada para trilho da Cara do Índio na Ilha do Corvo
Entrada para trilho da Cara do Índio na Ilha do Corvo
Trilho da Cara do Índio
Trilho da Cara do Índio
Trilho da Cara do Índio

Chegados à beira, uma seta aponta para a Cara do Índio, uma formação rochosa que a natureza tratou de esculpir no perfil perfeito de um nativo americano, com o nariz, a concavidade dos olhos e até o chapéu.

Quando nos largou o Sr. Fernando disse-nos ainda para olharmos dois patamares acima e procurar pela vaca deitada. E lá estava ela, um aglomerado de rochas que criam a forma do animal.

trilho da cara do índio
Cara do Índio na Ilha do Corvo
Conseguem ver a Cara do Índio? E a vaca em pedra? Respondam nos comentários se foi fácil ver.

Um adeus ao Corvo

Encontrado o que nos levou por aquele trilho, estava na hora de voltar a casa e o caminho traçado leva-nos encosta abaixo, por várias zonas de grande inclinação, onde os bastões de caminhada ajudaram bastante.

De longe este é um trilho fácil, implicando agilidade e bastante equilíbrio. Pouco recomendado para quem não tiver muita mobilidade. Mas pelo caminho, a vila do Corvo vai-nos acompanhando lá em baixo. Bem como o mar e o próximo destino, a ilha das Flores, sempre à espreita.

Dois dias no Corvo podem parecer demais para uma ilha tão pequena, mas as memórias que se criam, sem o travão do tempo, são especiais, tão extraordinárias como a resiliência daqueles portugueses que acolhem tão bem quem por ali chega.

GUIA DO CORVO
  • Mandar mergulhos na praia de areia preto perto do camping
  • Caldeirão da Ilha do Corvo (+ trilho circular)
  • Trilho Cara do Índio
  • Antigos Moinhos de Vento
  • Caldeirão
  • A Traineira
  • Associação dos Bombeiros
  • Joe e Vera’s Place
  • Comodoro

Avião ou barco

Rede de telemóvel, apesar de em algumas zonas ser fraca, mas funciona perfeitamente bem na vila. Os alojamentos também têm internet.

Leve roupa para o Caldeirão. Apesar da temperatura estar mais amena na vila, se estiver vento no caldeirão vai sentir frio.

  1. Caldeirão
    2. Conversar com os habitantes do Corvo
    3. Descer a pé do Caldeirão até à vila
Alguma vez pensou em visitar o corvo?

Gostou deste post sobre o Corvo? É uma ilha dos Açores que gostaria de visitar um dia? Já lá esteve? Qual foi a sua experiência. Partilhe na caixa de comentários em baixo. Vou adorar falar consigo!

Marlene On The Move

Marlene Marques

Marlene é a criadora do Marlene On The Move. Jornalista de profissão, criou o blog para partilhar as suas aventuras pelo Mundo. Não é raro partir à descoberta de novos países e culturas com a prancha de surf como bagagem.

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4 COMMENTS

  • Miguel Cardoso

    Apesar de conhecer as nove ilhas fico aguardar pelos seus textos sobre as mesmas.
    Muito bom!!!!

  • José Domingos Costa

    Olá Marlene,
    Gostei do seu texto, da forma corrida da narrativa e dos pormenores que soube engatilhar numa visita que, como deixa transparecer, lhe deve ter agradado muito. Apenas um porém: o verbo haver é impessoal, daí que o seu “haviam umas pequenas ondulações” deverá ser substituído por “havia umas pequenas ondulações”. A língua portuguesa é tramada, mas por ser tramada é que tem de ser estudada, compreendida e amada.
    Faça boas viagens e continue a escrever. Sem menos palavras estrangeiras, por favor.

    • Marlene Marques
      AUTHOR

      Caro José, muito obrigada pelo seu comentário. Se nesta vida aprendi uma coisa é que nunca estou isenta de errar, principalmente na nossa querida língua portuguesa, embora faça sempre os possíveis para que tal não aconteça. Assim sendo, é com agrado que agradeço a sua revisão e pelo cuidado demonstrado a ler o meu artigo. Não vou rever diretamente o texto, senão o seu comentário perderia o sentido, mas fica devidamente anotado. 🙂 Boas viagens!

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