A Beira Baixa é uma das regiões mais incríveis de Portugal, em especial se é apreciador de destinos de natureza. Por aqui consegue encontrar monumentos naturais extraordinários, trilhos super interessantes, bem como praias fluviais de sonho que tiram o melhor proveito dos rios que recortam este território.
Foi por aqui que andei durante dois dias. Podia ter sido uma semana inteira e mesmo assim ainda haveria lugares que ficariam por ver.
Mas se, como eu, o fim de semana é o tempo que tem para gastar, prepare-se porque ele pode ser cheio de grandes aventuras e vistas de cortar a respiração.
Se não acredita, espreite este roteiro.
Dia 1 — VILA VELHA DE RÓDÃO
Bater às Portas de Ródão
Acordei na Herdade da Urgueira, a 15 minutos de Vila Velha de Ródão, e já o termómetro rondava os 26 graus.
“Por aqui, quando faz calor é à séria!”, diz-me a colaboradora do alojamento, ao mesmo tempo que me serve ao pequeno-almoço os primeiros figos que comi este ano.
Para quem vem da Ericeira, onde a malhinha anda sempre conosco, as temperaturas da Beira Baixa fazem-me sentir que realmente estou no verão e que não podia ter escolhido melhor fim de semana para vir descobrir as praias fluviais da região.
De janela do carro aberta e a brisa quente a percorrer entre os dedos da mão, dirijo-me ao Cais de Vila Velha de Ródão, ponto de partida do barco que nos leva até às Portas de Ródão. Este é o nome dado ao monumento natural que resulta de um estreitamento do rio Tejo, ladeado por duas grandes paredes de escarpa que atingem os 170 m de altura.

“O que vêem aqui era há milhões de anos uma grande cascata”, explica Eduardo, o nosso guia nesta viagem. Foi a força das águas do Tejo que ditaram a erosão daquela pedra para o que hoje se estende à nossa frente. “Já ouviu falar do provérbio ‘água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’?… Foi aqui que nasceu!”, diz Eduardo. Por momentos acredito, até que ouço: “Estou a brincar!! Mas bem que podia ter sido”.
É com ele que também aprendo que a maior colónia de grifos (espécie de abutres) da Península Ibérica escolheu as Portas de Ródão para fixar residência. “São cerca de 70 casais e a maior parte é monitorizada para vermos a evolução da espécie ou até onde eles se deslocam à procura de alimento”.
Mas não foram só os grifos que se sentiram atraídos por este local. Registos arqueológicos e antigas estruturas mostram outras ocupações. Exemplo disso é o Castelo do Rei Wamba, o qual pode ser visto sobre a parede a Norte.
O forte data do tempo dos Visigodos, altura em que Portugal ainda não existia como nação, e conta a lenda de um amor proibido entre uma rainha cristã e um rei mouro.
De volta ao Cais de Vila Velha de Ródão para uma refeição no restaurante Vila Portuguesa. De resto, o passeio de barco é também organizado neste local, bem como o alojamento, caso queira passar a noite naquela terra.
À mesa do restaurante pousam-se pratos que vão buscar ao rio os elementos principais: o lúcio-perca e o barbo fritos, de entrada; o achigã à brás, como prato principal. Todos peixes de rio, de sabor adocicado, tão diferentes dos peixes de mar que tenho por hábito comer.
Da praia ao miradouro
Repasto feito, é hora de sair da vila para conhecer outras atrações do município e a primeira paragem é na Foz do Cobrão.
A pequena aldeia de ruas estreitas nasceu junto à Serra das Talhadas e o rio Ocreza e fica no caminho de trilhos a percorrer na zona de Vila Velha de Ródão. Porém, é a sua praia fluvial que atrai os visitantes… e a mim.

Esta espécie de piscina natural vive das águas da ribeira do Cobrão, que vai desaguar ao Ocreza, e destaca-se pelo enorme rochedo que compõe a paisagem e a torna ainda mais especial. Não tivesse eu a barriga cheia e teria sido a primeira a ir a banhos. Mas não foi o caso e segui viagem até ao miradouro das Portas de Almourão.
A apenas dez minutos de carro dali (talvez nem isso), chegamos a um miradouro que revela uma das paisagens mais lindas de Vila Velha de Ródão.

As Portas de Almourão, tal como as Portas de Ródão, são um estreitamento do rio, uma garganta composta por escarpas quartzíticas que afunila as águas do Ocreza e que o transformam num geosítio classificado no Geopark Naturtejo.
A vista é deveras incrível e não podia fechar de melhor forma a minha passagem por Vila Velha de Ródão.
Guia Vila Velha de Ródão
Herdade da Urgueira
Restaurante Vila Portuguesa
- Passeio de barco até ao Monumento Natural das Portas de Ródão
- Dar um mergulho na Praia Fluvial da Foz do Cobrão
- Tirar fotografias no Miradouro das Portas de Almourão
Dia 1 — PROENÇA-A-NOVA
De praia fluvial em praia fluvial
As Portas de Almourão marcam também a fronteira entre Vila Velha de Ródão e Proença-a-Nova, o meu próximo destino.
Com a tarde ainda por desfrutar neste primeiro dia de viagem pela Beira Baixa, tracei rumo para as praias fluviais deste novo município.
A primeira paragem foi a Praia Fluvial da Fróia… e o que eu adorei esta praia!

As águas calmas e frescas (que num dia de calor souberam mesmo bem) estendem-se por um braço da nascente da ribeira de Fróia e dão espaço para dar umas boas braçadas.
O espaço não podia estar melhor tratado, repleto de vegetação e áreas para estender a toalha ou abrigar-nos à sombra dos vários chapéus de sol que ali estão colocados para quem quiser usar.
Talvez tenha tido sorte com a altura do ano, talvez em agosto seja diferente, mas o ambiente era calmo e convidava à descontração.

Não tivesse estabelecido que até ao final do dia queria visitar outra praia fluvial, ali teria ficado horas, apenas a ouvir o barulho do movimento da água ou o vento a passar pela copa das árvores.
Mas ainda havia um outro destino em Proença-a-Nova para visitar: a Praia Fluvial do Malhadal.
Não sei se por ter chegado já ao final da tarde, mas o Malhadal estava entregue à tranquilidade e ao silêncio… bem, não tanto ao silêncio se contar com o grupo de convivas que estava na área de merendas em alegre cavaqueira de quem está ali a almoçar há mais de três horas.
Mas esta praia tem um potencial incrível, principalmente se for em família ou com um grupo de amigos. Primeiro porque tem um parque aquático com uma estrutura de insufláveis para dar mergulhos divertidos para a água; e, depois, porque a extensão da Ribeira da Isna (um afluente do Rio Zêzere) permite fazer outros desportos aquáticos, como caiaque ou paddle board.
Claro que esta foi a minha desculpa para colocar a prancha de paddle dentro de água e poder andar um pouco ao sabor daquelas águas.

Se bem reparam, estou agora a chegar ao final do primeiro dia e apenas vi ao de leve algumas das coisas que estes dois municípios da Beira Baixa têm para oferecer. Tanto mais podia ser feito, mas com o dia a terminar estava na hora de recolher a Proença-a-Nova para passar a noite.
O local de eleição foi o Amoras Country House, um hotel de quatro estrelas que oferece quartos super confortáveis e uma decoração muito focada em elementos orgânicos como a madeira. Afinal, numa região onde a natureza grita bem alto, os alojamentos parecem associar-se a essa abordagem mais natural. E ainda bem!
Apesar do restaurante do hotel também gozar de boa fama, a minha escolha para o jantar recaiu sobre o Täscá. Este restaurante no centro de Proença-a-Nova não só me permitiu fazer a pé o trajeto desde o hotel e percorrer algumas das ruas e escadinhas mais castiças da vila, como ofereceu um atendimento cinco estrelas e um bife da vazia de touro de chorar por mais.
Guia de Proença-a-Nova
Amoras Country House
Täscá
- Mergulhar na Praia Fluvial da Fróia
- Paddle board na Praia Fluvial do Malhadal
Dia 2 – OLEIROS
Pelo caminho dos Apalaches
Novo dia, novo destino da Beira Baixa, desta feita, Oleiros.
De Proença-a-Nova a Oleiros são cerca de 30 minutos de carro, mas o meu destino ia levar-me mais além, até à Cascata da Fraga da Água d’Alta.
As estradas sinuosas atravessam a montanha e fazem-nos ter uma real noção da imensidão deste território. Um caminho salpicado por pequenas povoações e por indicações no mapa que os rios andam por ali perto.
A Cascata da Fraga d’Alta é uma das atrações naturais de Oleiros e fica no caminho de vários percursos pedestres que por ali se estendem, incluindo o famoso Trilho dos Apalaches.
Situada perto do Orvalho, esta é a maior queda de água do Geopark Naturtejo e de toda a Beira Baixa, atingindo os 50 metros.
Para aceder à sua base há que descer um passadiço de madeira que acompanha a irregularidade do terreno. Uma vez lá em baixo, o som dos véus de água a escorrerem pela encosta e as cutículas a serem arrastadas pelo vento até à nossa cara, gravam ainda mais este momento na nossa memória.
Sabores da Beira Baixa
Oleiros é uma terra cativante, não só pela sua beleza natural, como pela sua tradição e gastronomia.
Liguei para a Adega dos Apalaches na véspera da minha chegada à Beira Baixa para reservar lugar para o almoço de domingo. “Vem pelo cabrito?”, perguntaram logo do outro lado. “Cabrito? Que cabrito?”, respondi. “Fazemos cabrito estonado, é um prato típico da região”.
Claro que marquei imediatamente e à hora marcada lá estava. Eu e dezenas de outros clientes. A Adega dos Apalaches serve cabrito só por encomenda. Aliás, o que começou por ser uma adega a servir refeições só para os amigos, hoje é um restaurante muito procurado para provar a iguaria local, a mesma que já ganhou prémios gastronómicos.
Trata-se de um cabrito no forno, preparado com a própria pele (que fica muito parecido com a pele do leitão assado). Mas o mais curioso deste prato — que, de resto, é delicioso! — é a sua história.
O cabrito estonado remonta à Idade Média, sendo que as primeiras referências a este prato apareceram num livro de receitas do séc. XIII. Depois, a confeção do mesmo foi também referida no séc. XVII pelo oleirense Padre António de Andrade, o primeiro ocidental a chegar ao Tibete.
Dizem que este é o “cabrito da paz” já que, desde a sua origem, era consumido pelos seguidores das três religiões: cristãos, judeus e muçulmanos.
Último mergulho no Zêzere
De barriga cheia não se deve ir à água, mas como resistir à Praia Fluvial de Álvaro?
Este foi o último ponto de paragem deste roteiro de dois dias pela Beira Baixa. E que final!
Das praias fluviais que visitei, esta é, sem dúvida, a mais vasta. Aqui abraçamos um braço do rio Zêzere e deixamo-nos maravilhar por aquelas águas.
Ao contrário das restantes que aqui já falei, a Praia Fluvial de Álvaro não tem as margens tão verdejantes, mas estas oferecem ótimas condições para quem é fã de pesca.
Por outro lado, tem uma piscina flutuante que permite ir a banhos em segurança e uma área de areia branca para estender a toalha e descontrair com o Zêzere à vista.

Guia de Oleiros
Camping Oleiros
(Não fiquei, mas tem uns bungalows bem catitas)
Adega dos Apalaches
- Visitar a Cascata da Fraga da Água d’Alta
- Mergulha na piscina flutuante da Praia Fluvial de Álvaro
Foi desta forma que terminei dois dias de viagem pela Beira Baixa. Não houve um momento aborrecido e sinto que tanto mais ficou por ver. Dos monumentos naturais às incríveis praias fluviais, este território tem muito para oferecer aos amantes da natureza.
E vocês? Já conheciam a Beira Baixa? Ficaram com vontade de visitar ou de lá voltar? Partilhem na caixa de comentários o que acham deste artigo e se tiverem mais dicas úteis para quem quer ir pela primeira vez, coloquem por lá.
Destino: Beira Baixa

Nota da Marlene
Fiz esta visita à Beira Baixa em parceria com a Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa e não posso deixar de agradecer toda a simpatia e hospitalidade com que fui recebida por todos os locais por onde passei. Mas, como sempre, todas as fotos e opiniões são minhas, refletindo de forma sincera toda a experiência.

2 COMMENTS
João batista
2 anos agoExcelentes locais, alguns já vistos mas a reportagem é uma riqueza, parabéns, bjsss
Marlene Marques
2 anos ago AUTHORCaro, João, muito obrigada pelo comentário. Fico contente por ter gostado.