
“Na Síria” — O lado viajante de Agatha Christie
Acho que posso dizer que entre as pessoas que gostam de ler por esse mundo fora (e mesmo as que não gostam) não há quem não reconheça o nome de Agatha Christie. Ela é uma das maiores autoras de romances policiais e histórias de mistério do mundo. Afinal, quem nunca ouviu falar de Hercule Poirot e casos como “Um crime no Expresso do Oriente”?
História curiosa: eu própria era para me ter chamado Ágata, tal era o gosto que a minha mãe tinha por esta autora… já viu, hoje podia estar a ler um blogue chamado “Ágata On The Move”!
Brincadeiras à parte, o que talvez muitos leitores não saibam é que Agatha Christie era uma grande viajante, que acompanhava o seu marido arqueólogo nas suas viagens de exploração.
É dessas viagens que nasceu o “Na Síria”.

O dia a dia de uma escritora na Síria
O “Na Síria” tem como seu nome original “Tell Me How You Live” (“Conta-me cá como vives”) e a sua autora assinou não apenas como Agatha Christie, mas como Agatha Christie Mallowan, o seu nome de casada. Isto porque este livro é um relato dos tempos que passou a acompanhar o marido, Max Mallowan, nas suas escavações arqueológicas pelos países do Médio Oriente.
Diz-se mesmo que foi nestes cenários, nestes ambientes que lhe eram tão fora do comum, mas simultaneamente tão familiares, que a autora escreveu algumas das suas maiores obras literárias.


O “livrinho pequeno” tem na realidade 283 páginas nesta edição da portuguesa Tinta da China, nas quais acompanhamos Agatha desde o frio de Inglaterra ao calor da Síria, dos grandes armazéns onde procura as peças de roupa em “seda ou algodão laváveis” aos tells* sírios e aos quartos repletos de ratos.
Uma Agatha Christie aventureira
Na realidade, mais do que aquilo que o livro descreve, o que gostei nesta obra foi ver o lado aventureiro de Agatha Christie. Ver que por detrás de uma ilustre figura que sempre imaginei muito composta, sentada numa secretária antiga a escrever entre pilhas de livro, andou a percorrer o mundo, submetendo-se a situações em que muitos de nós não nos imaginaríamos.
Depois de quase uma centena de livros que lhe valeram a entrada para o Guinness Book of World Records como a autora mais vendida no mundo — os seus livros já venderam mais de 4 bilhões de cópias em 103 idiomas —, este é talvez o livro mais sincero de Agatha Christie.
Pela sua caraterística autobiográfica e por sair do que era a escrita de mistério e crime que a autora nos havia habituado, os editores desvalorizaram este livro na altura. Mas como qualquer obra de Christie, foi um sucesso e ainda perdura até hoje.
* Tell: nome dado no Médio Oriente aos aglomerados de entulho resultantes da ruína de edifícios construídos com tijolos de lama, em sítios onde houve povoamentos na Antiguidade. (Nota retirada do livro)

