
Quem chega ao centro da cidade de Mafra, a cerca de 50 km de Lisboa, depara-se com um espetáculo da arquitetura barroca. O Convento e Palácio Nacional de Mafra é um dos monumentos mais imponentes de Portugal e, esta semana, foi considerado pela UNESCO como Património da Humanidade.
Mas o que guarda este grande palácio que serviu as cortes portuguesas e fez história na arquitetura nacional?

A visita ao Palácio Nacional de Mafra começa pelo piso térreo e pelo núcleo conventual, que reserva uma zona dedicada à arte sacra e uma grande enfermaria.
Os frades que ali viveram durante décadas dedicavam-se ao tratamento dos enfermos e é esse testemunho de atividade que podemos visitar nesta área conventual. Desde as celas fradescas, à cozinha da enfermaria, passando pela botica, onde eram preparados e armazenados os medicamentos. No séc. XVIII, os medicamentos eram compostos a partir de ervas e raízes, muitas das quais oriundas da própria horta do convento.

A enfermaria dos doentes graves é uma das salas mais emblemáticas deste piso. Era aqui que os doentes permaneciam e eram tratados pelos frades-enfermeiros, com visitas regulares dos médicos e dos sangradores.
Aos domingos, todas as camas eram puxadas para o centro da sala, para que os doentes pudessem assistir à missa que era celebrada no topo desta divisão.


Palácio Nacional de Mafra, uma Casa Real
Já no segundo piso, entramos no Palácio Real e na área que nos leva até à biblioteca. Mas vamos deixar essa para o fim.
Por aqui, reinam as peças de arte, os tetos pintados, as tapeçarias e o mobiliário trabalhado.
Os aposentos do rei e da rainha encontram-se nos torreões, em pontas opostas, e pelo meio surgem todas as salas de trabalho e convívio. Da Sala de Diana, que faz a alusão à Deusa da Caça — o palácio era usado pelos reis sempre que pretendiam fazer caçadas na Tapada Nacional de Mafra, também ela integrando este conjunto monumental reconhecido pela UNESCO —, à Sala do Trono, destinada à audiências régias.

A Galeria da Frente, que servia de passagem, era o local de passeio para os membros da corte. Por aqui caminhamos a imaginar os nobres e as donzelas a exibirem as suas vestes e jóias e a dar azo às intrigas amorosas e políticas.
No Torreão Norte encontram-se os aposentos privados do Rei. Quer as divisões destinadas ao rei como as da rainha funcionavam autonomamente, com as suas próprias cozinhas, despensas e camaristas. Esta separação apenas terminou com a morte de D. Fernando, marido de D. Maria II, quando toda a família real passou a ocupar apenas a ala sul, deixando a zona norte para receber convidados importantes.

Do Torreão Norte para o Sul, passando pela Sala da Benção. Era nestes varandins centrais do Palácio Nacional de Mafra que a família real assistia à cerimónias religiosas no interior da basílica e dava a bênção ao povo, da varanda virada para o Terreiro D. João V.

No Torreão Sul surgem os aposentos privados da rainha, onde podemos visitar o quarto de dormir da D. Amélia. Foi também aqui que o Rei D. Manuel II passou a última noite antes de partir — com saída do Porto da Ericeira — para o exílio no Brasil (*), aquando da Implementação da República, em 1910.


An extraordinary library
Uma das últimas paragens na visita ao Convento e Palácio Nacional de Mafra é a biblioteca. E que biblioteca!
Considerada uma das mais belas do mundo, este espaço vive à meia luz para preservar o grande espólio literário que ali se encontra. É uma coleção de cerca de 36 mil livros, alguns dos quais remontam até ao século XV.





Não abandone este palácio sem uma última passagem pelo claustro e pela basílica que possui uma significativa coleção de escultura barroca — uma das maiores existentes fora de Itália — e o conjunto de seis órgãos incríveis encomendados por D. João VI.


Ainda sobre o Convento e Palácio Nacional de Mafra:
- Construído no séc. XVIII, no prazo recorde de 3 anos
- Nos trabalhos de construção estiveram envolvidas cerca de 45 mil pessoas
- A Real Obra de Mafra, como ficou conhecida, tornou-se na principal escola de arquitetura dos Setecentos
- Aqui, aprenderam a trabalhar engenheiros e arquitetos, mas também muitos operários que se especializaram em funções como pedreiro, carpinteiro, vidraceiro, etc
- Foram nesta altura inventados guindastes e máquinas
- A aprendizagem tirada da Real Obra de Mafra tornou-se mais tarde útil na reconstrução da cidade de Lisboa, após o Terramoto de 1755
* NOTA: De acordo com o leitor Francisco Carvalho Domingues : “O Rei de Portugal D. Manuel II, que dormiu no Convento de Mafra a sua última noite em Portugal, para escapar à perseguição das forças republicana partiu para o exílio não pata o Brasil, mas para a Grã-Bretanha. O iate real, ancorado na Praia dos Pescadores em Ericeira, levou-os inicialmente para Gibraltar, pois o combustível não lhes permitia ir procurar abrigo fora de Portugal, em qualquer outro local seguro. Alguns dias depois viajou então para Inglaterra.”
Já visitou o Palácio Nacional de Mafra? Gostava de o fazer? O que achou do reconhecimento da UNESCO como Património da Humanidade? Deixe na caixa de comentários em baixo a sua opinião.

A arquitetura do convento é coisa de tirar o folego, essa biblioteca é coisa de outro mundo. Me matou de inveja. hahahaha……
Oi Daniele! É mesmo um edifício impressionante. Muito bonito! 🙂
Um erro a corrigir. O Rei de Portugal D. Manuel II, que dormiu no Convento de Mafra a sua última noite em Portugal, para escapar à perseguição das forças republicana partiu para o exílio não pata o Brasil, mas para a Grã-Bretanha. O iate real, ancorado na Praia dos Pescadores em Ericeira, levou-os inicialmente para Gibraltar, pois o combustível não lhes permitia ir procurar abrigo fora de Portugal, em qualquer outro local seguro. Alguns dias dias viajou então para Inglaterra.
Caro Francisco,
Muito obrigada pela contribuição. De longe sou perita em história e confesso que a “fuga para o Brasil” sempre foi a informação que me foi passada. Ainda bem que existem leitores atentos para nos corrigir e contribuir para uma informação mais clara e correcta. Muito obrigada!