A Gândara. Deparei-me com o termo quando fui desafiada a fazer um roteiro de três dias por “terras da Gândara”. A palavra em português significa “terreno arenoso em que apenas cresce esteva” ou “areal que fica descoberto durante a estiagem [falta de chuva]”
Isto levou-me a pensar que iria viajar por terrenos mais desérticos, areais que furavam terra a dentro ou uma zona do país entregue ao abandono e despida de vida. Mas o que encontrei foi bem diferente. Terras com história de gentes antigas e cores que se dividem entre o verde da floresta e o azul do mar.
Esta viagem de três dias começa em Coimbra, centro de tudo no Centro de Portugal e Património da Humanidade, onde se faziam (e fazem) os doutores, os mesmo que vão passar férias ao litoral.
Daí, para Cantanhede, aprender histórias destas terras contadas por pedra e rocha, e, depois, para a beira-mar, conhecer as artes antigas dos homens do mar da Tocha e de Mira.
Este é um roteiro diferente para conhecer parte da alma da Região de Coimbra. Pode fazê-lo como aqui lhe mostro, numa escapadinha de três dias, ou durante mais tempo, a um ritmo mais lento, absorvendo todos os detalhes destas terras da Gândara.
Dia 1 – Coimbra
A Cidade dos Estudantes
Coimbra não me é estranha. Aliás, já aqui tinha escrito um roteiro detalhado de Coimbra para fazer num dia. Mas qualquer desculpa é boa para lá voltar. Da zona da Universidade de Coimbra ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, do outro lado do Rio Mondego, a cidade conquista a cada esquina, a cada detalhe encontrado nos beirais dos prédios.
Durante o primeiro dia deste roteiro pela Gândara, calce umas sapatilhas confortáveis e vá descobrir esses lugares incontornáveis na cidade dos estudantes.

Jardim Botânico de Coimbra
Qualquer jardim botânico pode ser fascinante, mas o de Coimbra ganha ainda mais importância. Não só porque é reconhecido como um dos mais conceituados a nível mundial, mas porque foi criado para auxiliar o estudo da História Natural e da Medicina na Universidade de Coimbra.
Entre neste parque e esqueça o tempo à medida que percorre os seus vários patamares e escadarias, numa viagem pelo meio natural oriundo dos quatro cantos do planeta.

Universidade de Coimbra
Desde 2013 que a Universidade de Coimbra, em conjunto com a Alta e a Sofia, é reconhecida como Património da Humanidade. Ao passar pela Porta Férrea e entrando no Paço das Escolas, ou Paço Real, vai perceber bem o porquê. A imponente Torre da Universidade, o portal manuelino na Capela de São Miguel e, claro, a incrível Biblioteca Joanina são mais do que razões para passar algumas horas por ali.
Museu Nacional de Machado de Castro
A próxima paragem é no antigo edifício do Paço Episcopal, onde encontra um dos mais icónicos museus de Portugal. O Museu Nacional de Machado de Castro foi fundado em 1911, construído sobre o criptopórtico do fórum de Æminium, a mais significativa obra romana, datada do século I, em território português.
Neste museu, um dos mais importantes museus de belas-artes e arqueologia do país, estão coleções de pintura, escultura e artes decorativas, que percorrem mais de dois mil anos de história.

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Mandado a construir em 1314 pela Rainha Santa Isabel, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha destaca-se na margem oeste do Mondego. Atravesse a ponte para descobrir este edifício incrível que albergou as monjas clarissas. Deite um olhar atento ao seu exterior e entre no centro de interpretação para conhecer melhor a sua história.
Dia 2 – Ançã / Cantanhede
Ançã: Em nome da pedra
Coimbra é o ponto de partida deste roteiro pelo território da Gândara e Ançã a primeira paragem a partir da cidade dos estudantes. A pequena vila da Região de Coimbra pode passar despercebida, não fosse o seu nome estar associado a uma das pedras mais famosas de Portugal. A mesma que está incorporada em vários monumentos, dentro e fora do país.
A vida por aqui decorre como habitualmente. Para-se no café a um sábado de manhã, para comprar vegetais na carrinha da vizinha ou para trocar dois dedos de conversa. Este não é um destino de turismo, mas existem alguns pontos que merecem a visita.

Terreiro do Paço e Igreja Matriz de Ançã
Um deles é o Terreiro do Paço, um espaço amplo ao qual chegamos passando pelos arcos do Palácio dos Donatários, que em tempos pertenceu ao senhor da Vila de Ançã. O edifício, com vários detalhes na fachada, dá para um pequeno mas bem cuidado jardim e para a Igreja Matriz. O interior desta podia ser mais bonito, mas os sinos a entoarem à hora certa preenchem aquele espaço e puxam a imaginação para os eventos locais onde todo aquele terreiro certamente se enche de gente.

Fonte dos Castros
De volta pelas arcadas do antigo palácio e passando pelo pelourinho, o caminho faz-se rua abaixo em busca da Fonte dos Castros. Pensei que apenas se tratasse de uma fonte antiga, que abastecia a população, mas é mais do que isso. A fonte está lá, datada de 1674, e faz correr a água onde apanho uma habitante local a lavar a sua roupa “como antigamente”. Mas lá está também montada uma infraestrutura que faz crer que este lugar vira praia fluvial nos dias quentes de verão. Há escadas e sítios para saltar para a água, e um relvado onde, muito provavelmente, as toalhas são estendidas. Mas no dia desta visita, água nem vê-la. Fica o desejo de lá voltar e encontrar aquele espaço animado.
Cantanhede: A pedra e a Gândara
Depois de Ançã, Cantanhede é o próximo destino. Até porque é lá que encontramos o Museu da Pedra. A história do passado da Gândara também se conta pelo que existe debaixo do solo e nas jazidas deste território. É lá que muitas das gentes da região encontraram fonte de subsistência. Um passado de milhares de anos num território que é hoje a Gândara.

Museu da Pedra de Cantanhede
É num edifício do século XVIII que está o Museu da Pedra de Cantanhede. Nas traseiras, grandes blocos de pedra e antigas peças de máquinas anunciam o tema deste espaço, onde entramos para compreender a importância da pedra nesta região.
A viagem atravessa milhares de anos, acompanhando a história da extração do calcário nestas terras da Gândara e as atividades a ela associadas, incluindo achados arqueológicos oriundos das pedreiras. Mas, também, trabalhos e obras de arte onde a pedra local é o elemento em destaque.

Edifício dos Paços do Concelho e Igreja Matriz de Cantanhede
Ainda em Cantanhede, outros dois edifícios são incontornáveis: os Paços do Concelho e a Igreja Matriz. O primeiro é um antigo palácio quinhentista que desde 1805 recebe as sessões da câmara municipal local. Já a igreja, fundada no séc. XI, guarda esculturas em pedra datadas do séc. XV.
Dia 3 – Tocha / Mira
Tocha: A arte do mar
Do interior da pedra às ondas do mar. As populações da Gândara desde sempre se dividiram entre a agricultura, a extração da pedra e a pesca, sendo a Arte Xávega uma das maiores tradições no litoral desta região.
Apenas 25 km de terreno, dividido entre dunas e floresta, separam a Praia da Tocha da Praia de Mira. Duas terras que se unem, no entanto, pelo chamamento do mar. E é aqui que conhece o quanto este influenciou e ainda influencia as gentes da Gândara.

Praia da Tocha
A partir de Cantanhede, a estrada faz-se por retas de alcatrão ladeadas por mato e floresta. Se em tempos tudo aquilo era areia, hoje o verde alegra todo o caminho até ao litoral.
Uma vez lá, a altura das dunas é ultrapassada por longos passadiços. Uma “invenção” dos tempos modernos, mas que protege o cordão dunar da afluência de pessoas à zona costeira, em especial nos meses de verão.
O areal por aqui é longo, mas tem entradas por onde os barcos da arte xávega circulam até chegarem ao mar.

Palheiros
Sem dúvida que esta é terra de pescadores e a comprová-lo estão os antigos palheiros, que eram usados para guardar os instrumentos e redes de pesca. Hoje estão renovados e muitos convertidos em pequenas casas de praia, para a família aproveitar no verão ou para alugar aos muitos turistas que procuram cada vez mais a Região de Coimbra.
As características antigas continuam lá: pequenas casas de madeira, sustentadas por estacas, muitas pintadas com riscas que lembram os toldos antigos da praia.

Centro de Interpretação de Arte Xávega
Para compreender a arte da pesca na Praia da Tocha, o Centro de Interpretação de Arte Xávega, na avenida que corre a praia, é o lugar a visitar. O espaço é pequeno, mas rico em informação. Em grandes painéis estão imagens antigas dos palheiros da Tocha, com as gandaresas vestidas de preto à sua beira, os barcos usados na faina ou a vida selvagem daquela zona. Recortes de jornais antigos lembram também o quanto difícil é a vida do mar, com relato de naufrágios e a memória dos homens que um dia saíram para a pesca e não mais voltaram.
Mira: Com água na mira
Na Praia de Mira a água espreita. Seja ela doce ou salgada. De um lado o mar, o mesmo que recebe os barcos de arte xávega que nos dias maiores podem ser vistos estacionados no areal. Do outro, a Barrinha, uma lagoa cuja calmaria é apenas perturbada por canoas ou aves locais.

Palheiros de Mira
É junto à Barrinha que está um grande edifício de primeiro andar chamado de Palheiros de Mira, um espaço museológico que proporciona uma viagem no tempo das gentes de Mira e da cultura gandaresa.
O museu está muito bem organizado e cheio de detalhes sobre a comunidade local e como a pesca e a agricultura influenciaram estas gentes e o desenvolvimento da terra.
Uma das curiosidades deste lugar é uma coleção de miniaturas de palheiros antigos que contam várias histórias de como a comunidade se organizava.

Capela de Nossa Senhora da Conceição
Entre as miniaturas dos palheiros antigos de Mira está uma réplica da Capela de Nossa Senhora da Conceição. Porém, a versão real pode ser visitada nos dias de hoje junto do paredão da praia.
Datada de 1843, o seu interior não poderia ser mais apropriado. No tecto esticam-se redes de pesca e nas paredes espreitam vários santos que são tantas vezes evocados pelos pescadores locais e suas famílias.

Praia de Mira
Tal como a Praia da Tocha, também a Praia de Mira apresenta um extenso areal muito procurado nos meses de verão. Nos dias de mar mais calmo, pode-se assistir à arte xávega, quando os barcos saem ao mar, estendem a rede ao largo e trazem a mesma para ser puxadas a partir da praia. Já nos dias de ondulação maior, estes ficam na praia para quem os quiser ver e as redes são estendidas no areal para secarem e fazer possíveis arranjos.

Lagoa de Mira
Quando falamos em Mira, logo pensamos na praia, mas a apenas 10 minutos está a vila que lhe dá nome. À entrada de Mira surge um pequeno oásis natural que muitos usam para caminhar, pescar ou apenas passar momentos mais calmos: a Lagoa de Mira.
Este é o lugar ideal para descobrir a biodiversidade da região que se revela neste bonito cenário natural.

Museu do Território da Gândara
É em Mira que fechamos este roteiro. Um arrematar de muito do que vimos.
No Museu do Território da Gândara, o qual ocupa uma antiga escola primária, é passada em revista a história da Gândara e dos gandareses, desde a origem até à atualidade. Da terra ao mar e do mar à terra, mostrando a evolução demográfica e o domínio sobre as dunas e o mar.
As dunas que ditam a história da Gândara
Este roteiro pela Gândara fez-me descobrir uma parte do país que desconhecia. Coimbra é um lugar incontornável, mas as restantes vilas que tive o prazer de visitar não passavam de pontos no meu mapa.
A verdade é que esta é uma região muito interessante. Para quem lá vive, a vida decorre como habitualmente, mas para quem está de visita, existem vários encantos que testemunham os seus antepassados, as dificuldades que passaram, mas também a evolução que tiveram.
Não nos devemos enganar com o nome. Porque de seco e desinteressante a Gândara não tem nada.
Agora você! O que achou deste roteiro? É uma zona de Portugal que já conhece ou gostaria de visitar? Comente em baixo. Vamos falar!



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