A Nazaré cresceu em mim com o passar do tempo. A viver a cerca de uma hora desta vila piscatória, não é raro lá voltar, principalmente quando as ondulações de inverno chegam e, com elas, os surfistas de ondas grandes.
Mas a Nazaré é muito mais do que as suas ondas. É tradição, é alma de mar.
Quando surgiu a iniciativa #EuFicoEmPortugal, da ABVP – Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, para descobrirmos alguns dos cantinhos mais especiais do país, apressei-me a juntar a Nazaré à lista. Mas não fiquei por aí. Afinal, o litoral do Centro de Portugal é uma das zonas mais bonitas do território nacional e ainda há tanto para mostrar e explorar.
À terra das mulheres das sete saias, juntei São Martinho do Porto e a Foz do Arelho e é por todos estes locais que vamos viajar neste roteiro.
As Praias e a Nazaré
– Praia da Légua
– Praia do Vale Furado
– Praia de Paredes de Vitória
– Praia da Polvoeira
– Praia de Água de Madeiros
– Praia do Norte
– Sítio da Nazaré
– Forte de São Miguel Arcanjo
-Praia da Nazaré
Da Pederneira à Lagoa de Óbidos
– Pederneira
– São Martinho do Porto
– Passadiços da Foz do Arelho
– Praia da Foz do Arelho
– Lagoa de Óbidos
Tudo o que pode ver e fazer na Nazaré e arredores
Dia 1 – Manhã : As Praias da Nazaré
Quem me conhece sabe que as praias e o mar são a minha predileção. Por isso, não é de estranhar que o meu fim-de-semana pela zona da Nazaré começasse bem cedinho pelas praias em redor.
Não me queria limitar à Praia do Norte, agora de fama internacional (ver caixa mais abaixo), mas subir um pouquinho no mapa para lhe mostrar algumas das pérolas da região.
Pelo litoral, em direção a São Pedro de Moel, existem areais que surpreendem pela sua extensão e calmaria. Mesmo nos dias quentes e plenos de verão, é sempre possível estender a toalha e gozar de grande tranquilidade. Já para não falar de que são das melhores ondas do Oeste para a prática de surf e bodyboard.
Da Praia da Légua, brindada com uma encosta verde e paraíso dos pescadores, à Praia do Vale Furado, junto a uma grande falésia que desafia os incansáveis a descer até à areia. Nunca lá tinha ido e foram belas surpresas.
A Praia de Paredes de Vitória é uma das mais concorridas pelos banhistas da região. O areal estende-se até onde a vista alcança, largo de tal forma que as dezenas e dezenas de barraquinhas colocadas na praia apenas ocupam um pedacinho desta. O distanciamento social pode ser aqui alcançado facilmente.
Depois segue-se a Praia da Polvoeira e a minha sugestão é que, de Paredes de Vitória à Polvoeira, o caminho seja feito pelo passadiço que percorre o topo das arribas. É maravilhoso!
Chegados à Polvoeira a vista alegra-se com o formato desta baía envolta em vegetação e por no lado direito da praia o mar ser quase sempre mais calmo e permitir ir a banhos.
Sabia que…
… a pedra no extremo esquerdo da Praia da Polvoeira é conhecida entre os surfistas como a “cabeça de leão”?
Por último, Água de Madeiros. Foi aqui que passei mais tempo de praia durante este fim de semana. Eu e vários surfistas e pescadores que não arredaram pé o tempo que lá estive!
A entrada da praia é muito bonita, já que recebe os visitantes com uma ribeira que ali desagua e uma série de formações rochosas. Depois, é virar à direita e aproveitar o vasto areal que se estende até São Pedro de Moel.
Outrora esta era uma vilazinha cheia de casas de férias, mas agora pareceu-me mais deserta. Cruzei-me apenas com um ou dois moradores que logo meteram conversa.“O que está para aí a fazer”, perguntei a um deles, que estava debruçado sobre um fogareiro. “O almocinho! São codornizes! É servida?”, disse animado e lembrando-me que eram horas de almoço.
A Praia do Norte
Deixei a visita à Praia do Norte para último porque esta quase dispensa apresentações. Afinal, foi aqui que foi batido o recorde do Guiness da maior onda surfada do mundo.
O feito coube pela primeira vez a Garrett McNamara, em 2012, com uma onda de 23 metros. Marca essa batida em 2017, por Rodrigo Koxa, que surfou uma vaga de mais de 24 metros neste mesmo lugar.
Mas o que faz a Praia do Norte tão propícia a este fenómeno? O chamado “Canhão da Nazaré”, uma falha na placa continental com cerca de 170 km de comprimento e 5 km de profundidade, que canaliza a ondulação do Atlântico direitinho para aquela praia. Este é um fenómeno geomorfológico raro, o maior da Europa e um dos maiores do mundo.
Apesar disto e mesmo se não for fã deste tipo de desporto, a Praia do Norte não deixa de ser ser uma grande opção para tomar banhos de sol num ambiente bastante tranquilo.
Dia 1 – Tarde : A Nazaré
Já a parte da tarde foi totalmente dedicada à Nazaré. E há tanto para ver nesta vila!
A começar pelo Sítio, claro está. Este é um dos pontos mais turísticos da localidade, até porque aqui estão concentrados muitos dos monumentos e histórias.
Comecei por visitar o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré. Tantas vezes que já estive no Sítio e nunca tinha tido oportunidade de lá entrar. Desta foi de vez! E ainda bem que o fiz porque a igreja é lindíssima.
Da talha dourada aos vários altares, passando pelos azulejos. Não sabia para onde olhar tal era a beleza deste templo.
O Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, datado de finais do século XVI, já foi em tempos um importante local de peregrinação católica. Hoje está de portas abertas a todos os que a quiserem visitar.
Saída do santuário e passando pelo coreto centenário, cheguei à Ermida da Memória. Esta pequena capela foi aqui erguida por Dom Fuas Roupinho, em 1182, depois do “milagre de Nossa Senhora da Nazaré”.
Infelizmente, de todas as vezes que aqui estive, a ermida estava fechada. Mas consta que o seu interior é revestido a azulejos do séc. XVIII. No entanto, mesmo de fora, há vários detalhes que pode reparar, como o painel de azulejos a representar o escudo real sobre a porta de entrada.Ao lado da Ermida da Memória e do Cruzeiro está o Miradouro do Suberco de onde é possível ter uma visão incrível sobre toda a Nazaré. Imperdível!
A Lenda de Nossa Senhora da Nazaré
Dom Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, numa manhã de nevoeiro, em 1182, estava a perseguir a cavalo um veado quando foi surpreendido pelo abismo do promontório do Sítio da Nazaré. Na iminência da uma queda fatal, Dom Fuas exclamou “Senhora, valei-me!”… e então que se dá o milagre. O seu cavalo pará à beira do monte, evitando assim a morte certa. Diz-se que no local ainda existe a marca das patas do cavalo de Dom Fuas gravadas na pedra.
Da Ermida da Memória ao Forte de São Miguel Arcanjo são cerca de 15 minutos a pé. É um dos ex-libris locais, em grande parte pela fama que as ondas gigantes trouxeram à Praia do Norte e à Nazaré. Como se tornou num dos locais preferidos pelos visitantes, o acesso ao mesmo está agora condicionado ao trânsito e apenas acessível a pé.
Porque visitei a Nazaré da parte da tarde, o sítio estava repleto de gente e não cheguei a ir mesmo ao seu encontro, já que o conhecia de outras aventuras. Mas se nunca lá esteve, recomendo a visita.
O Forte de São Miguel Arcanjo, construído no séc. XVI, sobreviveu às Invasões Francesas e às Lutas Liberais. Hoje é um dos principais elementos de orientação para os homens que se fazem ao mar e tornou-se no Centro Interpretativo do Canhão da Nazaré, com uma Surfer Wall e uma mostra de várias exposições temporárias.
Do topo da Nazaré decidi ir até ao centro junto à praia. Podia tê-lo feito pelo ascensor, que faz viagens de 15 em 15 minutos entre a parte alta e a zona baixa da vila. Porém, decidi fazer o caminho a pé e há um acesso que nos leva até lá abaixo.
Este caminho permitiu-me ter outra visão da vila, pelo meio das ruas típicas e cruzando-me com os habitantes locais.
O curioso com as gentes da Nazaré é que apesar de aparentarem serem mais duras, são super simpáticas e prestáveis. Interpelei um nazareno para saber onde ficava uma loja de crepes que me tinham dito que tinha os melhores das redondezas e ele desviou-se do seu caminho para me acompanhar pessoalmente até à porta do estabelecimento. Não são muitas as pessoas que têm esta atitude aos dias de hoje.
Já junto à praia, caminhei o longo paredão até à frente do centro cultural (antiga lota) para encontrar uma verdadeira exposição das gentes e tradições da Nazaré.
No areal estão alguns barcos antigos e as suas histórias, bem como os “paneiros”, utilizados para a seca do peixe, com algumas bancas e mulheres vestidas com o traje tradicional das sete saias a venderem o dito peixe.
A história das 7 saias
A origem e explicação das sete saias usadas pelas mulheres nazarenas não é conclusiva, existindo várias teses.
“O povo diz que representam as sete virtudes; os sete dias da semana; as sete cores do arco-íris; as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas que envolvem o número sete. (…) No entanto, num ponto, todos parecem estar de acordo: as várias saias (sete ou não) da mulher da Nazaré estão sempre relacionadas com a vida do mar.
As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília. Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre ‘compostas’”, pode ler-se no site da Câmara Municipal da Nazaré.
A Nazaré é de facto uma vila muito rica em história e experiências e, confesso, talvez apenas uma tarde tenha sido pouco para desfrutar desta terra.
Mas com o dia a terminar, estava na hora de ir descansar os pés e preparar-me para o dia seguinte.
Espreite o vídeo desta visita à Nazaré
As descobertas de São Martinho do Porto e Foz do Arelho
Dia 2 – Manhã : A Pederneira e São Martinho do Porto
Antes de sair da Nazaré e porque não o tinha conseguido fazer no dia anterior, não abandonei a zona sem ver a Pederneira. Esta, sim, uma estreia!
Não conhecia nada da Pederneira até ter começado a pesquisa para esta viagem. A 10 minutos de carro do Sítio da Nazaré, a localidade já chegou a ser uma das mais populosas da região. Até porque, em tempos, o mar chegava até àquele morro. Com o retrocesso do nível da água e a descida dos pescadores para as áreas mais baixas, que deram origem à Nazaré como hoje a conhecemos, a Pederneira parece ter ficado no esquecimento.
Apesar disso, hoje podemos ver os antigos Paços do Concelho, junto à Igreja Matriz, e a Igreja da Misericórdia que fica ao lado de um fantástico miradouro de onde tive uma perspectiva completamente diferente da vila da Nazaré.
Da Pederneira disse adeus à terra das mulheres das sete saias e tracei rumo para outra grande estância balnear do Centro de Portugal: São Martinho do Porto.
A “concha do Oeste”, como já vi chamarem-lhe, tira o melhor partido da geografia. A vila cresceu em torno de uma baía, em forma de concha, claro está, que se transforma no local perfeito para ir a banhos, com o seu extenso areal e as águas calmas.
A Praia de São Martinho do Porto é o que atrai a grande maioria dos visitantes, mas se houve uma coisa que esta viagem me mostrou é que em torno do óbvio estão os grandes segredos.
Coloquei no gps o caminho para o Cais de São Martinho do Porto já que me pareceu um local ideal para visitar e até para colocar o SUP dentro de água. O que nunca imaginei é que o mesmo me levasse a descobrir outros sítios interessantes.
O primeiro é o Cruzeiro de São Martinho do Porto, que fica no topo do morro a norte da praia e que oferece uma vista espetacular sobre a baía. Daí consegui ver que havia um trilho que levava até a um pequeno farolim, mesmo na extremidade do morro. Desafio aceite! Apanhei a entrada para esse mesmo caminho de terra, já na descida para o cais, e segui a pé até onde as duas pontas de terra não se tocam e que marca a abertura que permite a entrada da água do mar para a baía. Uma vista inacreditável!
No início desta viagem pensei que pouco teria para ver e mostrar de São Martinho do Porto, já que acreditava que era apenas uma bonita praia, mas esta localidade do Centro de Portugal foi mesmo uma surpresa e espero voltar brevemente para visitar a outra extremidade da baía. Quem sabe que segredos guardará.
Dia 2 – Tarde : Da Foz do Arelho à Lagoa de Óbidos
De São Martinho do Porto para o último destino deste roteiro: a Foz do Arelho.
Mas antes de chegar à vila quis ir conhecer os passadiços que por ali existem. Procurando proteger as arribas da degradação que estavam a ser alvo pela presença constante de carros e pessoas, foi construído um conjunto de passadiços e plataformas de observação em madeira que permitem que se usufrua daquele espaço natural ao mesmo tempo que se preserva o meio ambiente onde estão inseridos.
Esta estrutura não é longa, tendo demorado apenas cerca de 30 minutos (ida e volta) a percorrê-los, mas a vista que se tem a partir dali, quer para o mar como para a Praia da Foz do Arelho é muito bonita.
Essa mesma praia foi o meu ponto de paragem seguinte, mas, confesso, pouco me demorei por lá. Sugiro que não façam esta visita a um domingo à tarde de sol, como eu fiz, porque vão encontrar uma Foz do Arelho repleta de gente!
Contudo, é compreensível. Aquela praia é muito extensa e tira o melhor partido de dois mundos: do mar e das águas calmas da Lagoa de Óbidos.
E foi mesmo para a Lagoa de Óbidos que “fugi” para aproveitar o bonito final de dia.
Com uma área total aproximada de perto de 7 km, não é difícil encontrar um local mais tranquilo junto da lagoa se nos afastarmos da zona perto do mar.
Fica a promessa de regressar e ver ao detalhe o que visitar na Foz do Arelho numa visita mais demorada e tranquila à vila.
Visitar mais a fundo a Nazaré e as suas praias e descobrir um São Martinho do Porto que desconhecia foram para mim o ex-libris desta viagem.
A região roça o selvagem, com as suas vastas praias, as encostas e arribas rudes, as histórias de mar e a força das ondas e das suas gentes.
De todo esta foi a última vez que por ali andei e espero que este roteiro, estas dicas e curiosidades, lhe aguce a curiosidade para fazer a mala e traçar rumo para estas terras do Centro de Portugal.
O que achou do roteiro? Ficou com alguma dúvida? Já conhece bem esta zona? Não deixe de partilhar a sua opinião na caixa de comentários em baixo.
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2 COMMENTS
Travel to Nazare
2 anos agoDos melhores roteiros que já vi até hoje. É um roteiro de dois dias muito completo e muito bem explicado, dando a conhecer os pontos turísticos da vila da Nazaré.
Marlene Marques
2 anos ago AUTHOROlá! Obrigada pelo comentário! A Nazaré é um destino formidável e fico contente por ter feito jus à terra 😉 Boas viagens!