Sofia Machado era professora de educação física em Lisboa quando, num ferry com destino a Montenegro, conheceu o amor da sua vida. De armas e bagagens seguiu esse amor até à Austrália, onde hoje vive com o marido e duas crianças (uma prestes a nascer).
Tudo mudou na vida desta blogger, autora do Sofia na Austrália, mas a paixão pelas viagens, pelas crianças e pela natureza continua mais forte que nunca.
Convidei a Sofia a partilhar esta onda comigo e a contar-nos a sua história.
Como foi mudares-te de Portugal para a Austrália? O que motivou essa decisão?
Paixão, literalmente paixão! Em 2008 estava a viajar pela Europa e num ferry de Itália para Montenegro, apaixonei-me por um rapaz “mal cheiroso e com um cabelo seboso” (aposto que o Paul não tomava banho há dias!!).
Viajámos juntos por uns tempos e tal como nos filmes ele acabou por comprar um bilhete para o mesmo voo em que eu ia regressar a Portugal. Ficámos juntos em Portugal e desde aí as coisas ficaram juntas.
O Paul tinha vendido tudo o que tinha para viajar pela Europa e não tinha data de regresso nem qualquer tipo de compromissos na Austrália. Eu aguentei um ano em Lisboa, mas assim que o ano letivo acabou (era professora. de Educação Física em Lisboa) pus mãos ao trabalho. Fiz uma “mega” venda de garagem, comprei bilhete, empacotei 20kg da minha vida e mudei-me para a Austrália em 2009.
Portugal deixa saudades, muitas saudades, mas ir para a Austrália foi uma das melhores decisões que tomei. Foi um total “reset” da minha vida, redefini prioridades e estabeleci novos objetivos.
Como o Paul também não tinha nada na Austrália, começámos os dois do zero. Primeiro vivemos numa carrinha até descobrirmos o nosso paraíso — Kirra beach — e só depois então conseguimos alugar casa, trabalho e por aí fora! Não foi fácil, mas valeu mesmo a pena!
O que gostas mais da Austrália?
A Austrália inspira qualquer um. Pelas paisagens tão variadas, pela vastidão e pela intrínseca ligação entre as pessoas e a natureza.
Gosto do estilo de vida descontraído, de poder andar descalça na rua, no supermercado, enfim, em todo o lado.
Gosto do facto de toda a gente desta região da Austrália falar contigo e perguntar como está a ser o teu dia. Adoro o facto das condições do surf serem notícia matinal em qualquer rádio ou televisão e o enorme espírito de comunidade que existe nesta região australiana. Aqui parece que tudo é possível!
Dos 48 países que já visitaste até hoje, qual o que te marcou mais e porquê?
Marcam todos por razões distintas. Em qualquer viagem, perto ou longe, aprendo coisas novas.
As viagens têm disto. Temos tempo para ver, perceber e pensar como culturas diferentes interagem, se organizam e como fazem coisas de maneira semelhante ou igual. Estamos em aprendizagem constante e isso marca-me, faz-me modificar ou fortalecer-me enquanto pessoa. Todos os dias inspiração surge!
E aquele que nunca mais vais querer voltar? Porquê?
Não tenho nenhum. Voltaria a todos os países. Acredito que a nossa experiência em cada país se altera consoante onde estamos na vida. A nossa idade, com quem vamos ou se vamos sozinhas, tudo tem um impacto na nossa perceção em relação aos diferentes países.
Qual o destino que ainda não visitaste mas que está no topo da tua lista?
Fiji e Vanuato — estão na minha lista desde 2010, nem dá para acreditar!!! O Butão, o Irão, e Madagascar também andam na lista de espera há algum tempo!
Conta-nos uma situação insólita que tenhas vivido durante uma viagem?
É difícil destacar uma. Acho que situações destas acontecem em qualquer viagem. Mas aqui vai!
Na minha primeira viagem ao Brasil, em 2004, apanhei o autocarro errado. Foram 13 horas inesquecíveis com galinhas e dois patos a andarem no meio do autocarro. Quando cheguei ao destino errado, percebi que naquela terra (que não me lembro mesmo do nome!!!) não havia qualquer tipo de alojamento e a única televisão estava em cima de um pedestal na praça principal. Dormi numa rede em casa de umas pessoas por dois dias até aparecer outro autocarro. Foi inesquecível. Viajar sem agenda e grandes planos tem destas maravilhas, deparamo-nos com realidades diferentes e apercebemo-nos do quanto especial é poder fazer parte delas, nem que seja por dois dias!
O que te levou a criar o Sofia Na Austrália?
Foi puro acaso. Nas primeiras semanas depois de me ter mudado para cá, uma amiga minha sugeriu criar um blog “Sofia na Austrália”, em vez de estar sempre a enviar emails.
Confesso que não percebia nada de blogs, sabia que existiam, mas não fazia ideia que as pessoas liam realmente blogs.
O blog começou de forma rudimentar para pôr a minha família e amigos mais chegados a par das maluquices, mas rapidamente cresceu. Comecei a receber comentários e emails a pedirem para escrever em Inglês, dicas de viagem, entre muitas sugestões.
Muita gente pergunta-me como é que eu tenho paciência para continuar a escrever após quase 10 anos de blog — e confesso, sem dúvida nenhuma, é um verdadeiro prazer!
Tens um projeto paralelo na Austrália, com crianças. Conta-nos um bocadinho do que se trata e porque decidiste fazê-lo.
Quando vim para a Austrália decidi mudar de carreira e tornei-me Educadora de Infância, pois crianças é outra das grandes minhas paixões!
Trabalhei como educadora em ‘escolas normais’ mas enquanto estava em licença de maternidade comecei a sentir uma urgência tremenda de criar algo um bocadinho diferente para complementar a experiência que as crianças tinham na escola até aos 5 anos. Queria criar um programa que enaltecesse a independência, o espírito de aventura e descoberta, paixão pelo meio ambiente mas, acima de tudo, que visse as crianças como pessoas verdadeiramente capazes de tomar decisões importantes sobre coisas relacionadas com a sua própria aprendizagem. Foi então que quando regressei ‘ao trabalho’ fundei a “Nature Explorers”, ou seja, em termos simples e diretos, uma escola da natureza, mesmo em plena na natureza!
A “Nature Explorers” não tem paredes nem salas, o nosso espaço é mesmo a natureza, quer seja na praia ou na floresta. As crianças são responsáveis pelas suas coisas (todas numa mochila) e deslocamo-nos ou a pé ou em autocarros públicos.
Inicialmente começámos só com 8 crianças… Agora temos 124 crianças com diferentes programas disponíveis — “Playgroups” para crianças entre 1 e 3 anos, “Preschool” entre 3 e os 5 anos, e também temos programas para escolas primárias, e tudo isto envolve já 9 professores.
O nosso sucesso nestes 2 anos mostra como são imprescindíveis este tipo de programas para o desenvolvimento da criança, pois é perfeitamente notório que o grau de aprendizagem é bem visível após cada dia destas aulas.
Atualmente, viajas com o teu marido e filho mais novo e vem mais um bebé a caminho. Tudo muda quando se viaja com crianças?
Muda tudo para melhor! Sou suspeita porque as minhas paixões são estas mesmas: crianças e viagens! Por isso, para mim é a combinação perfeita!
Quando o meu filho, o Noah nasceu confesso que entrei um bocadinho em pânico com o “remoto pensamento” de não poder viajar mais, por isso resolvi marcar um bilhete de avião imediatamente. Fomos passar uns dias a Sydney quando o Noah fez 3 semanas, dormimos num hostel e percorremos a cidade. A partir daí sabíamos que o facto de termos crianças não impede nada viajar. Muda o modo como o fazemos e organizamos as coisas — pela primeira vez preocupo-me onde vou dormir, se vou ter comida ou transporte… Mas isso são apenas pormenores… Adoro compreender os sítios pelos olhos do Noah que apenas tem 3 anos mas muitas milhas no passaporte. Adoro quando vamos a algum lado e ele reconhece o quadro de “Mona Lisa” e começa no seu ‘bonjour croissant merci!, quando se lembra do enorme “skate park” que descobrimos na nossa “road trip” no outro lado da Austrália, em Perth, ou quando está em casa e decide preparar a sua próxima viagem e, com um ar despachado, diz-nos que se nós não pudermos ir podemos deixamo-lo no aeroporto pois ele já sabe fazer as diferentes escalas aéreas!
Eu viajo muito. É uma realidade! Viajo com o Paul, o Noah (e o bebezinho na barriga), por vezes só com o Noah e outras só eu e a barriga. Todas as experiências são diferentes e eu gosto de todas, mas confesso que quando não tenho o Noah como “buddy” passo a maior parte do tempo a pensar como seria se ele lá estivesse e o que poderíamos ter feito.
Como viajante, qual a maior mensagem que queres transmitir aos teus filhos?
Que vão viajar! Que vão a qualquer lado, longe ou perto, que apreciem as diferenças de cultura, das pessoas, da língua e dos países. Que vão e que escrevam diários, porque não há nada melhor do que ler tudo passados alguns anos. Ler e reler as nossas próprias aventuras e percepções. Que vão sozinhos ou acompanhados. Que vão e voltem para contarem as aventuras à mamã e ao papá!
Onde te vês daqui a 5 anos?
É tão difícil prever o que vai acontecer… Temos planos para pôr os miúdos dentro do nosso querido “Defender” e viajar à volta da Austrália durante talvez um ano… Não temos data de partida certa, pode ser daqui a 2/3 anos ou quem sabe 5 anos. O Paul acredita que ainda vamos viver noutro país. Eu não penso muito nisso, gosto de surpresas, tudo pode acontecer!
Drop In com a autora do Sofia na Austrália
Já conhece o Sofia na Austrália? O que achou da entrevista? Partilhe a sua opinião na caixa de comentários em baixo.
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Outros Drop In’s 👉 Susana Ribeiro, autora do Viaje Comigo

4 COMMENTS
Ruthia
4 anos agoQue linda história. O amor conduz-nos de formas inesperadas. Um beijinho para as duas
Marlene Marques
4 anos ago AUTHORÉ verdade, Ruthia. A história da Sofia quase dava um bonito filme 😉 Um beijinho para ti!
OLIRAF
4 anos agoA Sofia é uma pessoa muito simpática e tem uma História de vida que inspira uma pessoa.
Marlene Marques
4 anos ago AUTHORNão podia concordar mais! É uma grande embaixadora de Portugal em terras australianas. Beijinhos e boas viagens!