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Beber Whiskey na Irlanda… Sem Gostar de Whiskey!

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“Vais à Irlanda? Tens que ir à Guinness!”. Ouvi isso vezes sem conta quando comentava com alguém que ia à Irlanda passar uns dias.

Para dizer a verdade, sempre fui mais fã de bebidas doces. Cerveja, bebidas brancas ou whiskey nunca estiveram entre as minhas eleitas. Deem-me vinho em qualquer dia!

Mas quando estamos num país onde a cerveja e o whiskey são as bebidas nacionais, não há como fugir.

Assim, ainda ponderei durante algum tempo ir à Guinness, em Dublin, ver como a bebida é feita e porque reúne tantos adeptos à volta do mundo. Porém, o preço desta experiência é um pouco exagerado — prepare-se para pagar cerca de 25 € ou mais para fazer o tour e provar uma Guinness no final — e quando estava a planear esta viagem, que me ia levar pela República da Irlanda, mas também pela Irlanda do Norte, pensei: “já que é para gastar dinheiro a beber uma bebida que não aprecio, então, que seja a provar whiskey!”

E foi assim que fui parar à Bushmills!

Bushmills, uma história de 400 anos

Vila Bushmills Village

A pequena vila de Bushmills, a apenas 7 minutos de carro do Giants Causeway, uma das principais atrações turísticas da Irlanda do Norte, data dos tempos normandos e originalmente chamava-se Portcaman.

Com a evolução das indústrias nos 1600s e pela existência no local de cerca de sete moinhos (“mills” em inglês) a operar nas margens do rio Bush — bem como de cinco destilarias —, a terra assumiria o nome de Bushmills bem como uma longa história ligada à produção da conhecida bebida alcoólica.

A descoberta do Giants Causeway, nos 1700s, bem como o desenvolvimento da vila introduzido pela família Macnaghten, nos 1800s, trouxeram prosperidade àquela terra irlandesa.

Mas com a força hidráulica a ser substituída pelo vapor, gás e eletricidade, a vila ficou então dependente do sucesso da “Old Bushmills”, a destilaria que, a partir do século XX, voltaria a colocar a localidade no roteiro turístico da Irlanda do Norte.

Descobrir a arte de destilar

Cheguei ao estacionamento da Bushmills na expectativa do que me esperava. Por várias vezes participei em visitas a adegas e provas de vinhos, mas ver como o whiskey é produzido e prová-lo no final era coisa que nunca pensei vir a fazê-lo.

A caminho da receção passavam por mim dezenas de turistas que se dirigiam de volta ao parque de estacionamento, de regresso a um dos muitos autocarros que aguardavam os visitantes para levá-los ao próximo ponto turístico da região.

Lá iam, de sacos na mão e sorrisos tontos na cara, muito possivelmente do whiskey que tinham bebido.

Bushmills Exterior

Da porta de entrada podia ver-se um grande edifício antigo, com aspeto de prisão e o telhado a apresentar numa tinta gasta o nome da destilaria original “‘Old Bushmills’ Distillery Co. Lda.”. Ao lado, outros edifícios surgiram, mais modernos e onde notava a destilaria em atividade.

Confesso que, sendo esta a mais antiga destilaria licenciada do mundo e um dos whiskeys mais vendidos, esperava um local bem maior. Mas não.

Porém, como viria a constatar, não é preciso muito para produzir o líquido dourado, apenas uma grande dose de saber trazido por séculos de experiência.

“Poderá ser extremamente perigoso”

É da sala de visitas, no edifício da receção, que começa a caminhada pelas entranhas da Bushmills. John, o guia que me acompanhou, começou por perguntar os países de origem dos membros que constituíam o grupo. Logo foi notória a presença de norte-americanos. Os Estados Unidos são grandes apreciadores de whiskey e, como tal, não é de estranhar que os turistas oriundos daquele país queiram ir à fonte, perceber os meandros da atividade e, claro está, levar umas quantas garrafas para casa.

Já os imagino, no final de um barbecue, a oferecer um copo de Bushmills aos amigos chegados.

“Provém este. Veio diretamente da Irlanda. Comprei na visita que fiz à fábrica desta beleza. É um blue label, 12 anos e só pode ser comprado lá”, dirão.

Claro que quando referi que era portuguesa todos os olhos se voltaram. Temo pensar que, provavelmente, alguns poderiam até nem saber onde é Portugal. Já o guia reconheceu logo a origem, até porque a presença portuguesa se faria sentir mais à frente na visita.Fomos ainda alertados para o uso do telemóvel, proibido no interior das instalações. “Iremos passar por zonas de elevado perigo devido aos vapores de álcool no ar. Qualquer mau contacto num aparelho, alguma faísca, poderá ser extremamente perigoso”, referiu.

Bushmills Distillery Detail

Confesso que a impossibilidade de tirar fotografias torna-nos muito mais atentos àquilo que estamos a ver e a ouvir.

Lá comecei o percurso pela destilaria em atividade. Aprendi sobre ingredientes, da água da nascente à melhor cevada. Os processos são vários e incluem obter um líquido branco, em género de álcool quase puro, de 80.º, e consegui-lo baixar até níveis próprios para consumo.

Beber pelo olfato

“Na próxima sala em que vamos entrar o cheiro e o calor pode ser muito intenso. Por isso, tirem os casacos e, caso se sintam mal, avisem-me imediatamente que eu vos encaminho para o exterior”. O aviso foi feito por John antes de entramos na sala da destilação.

O coração começou a bater um pouco mais rápido. “Para estar a fazer este aviso é porque a coisa deve mesmo se forte”, pensei. E era. Ao transpor a porta levei com uma lufada de ar escaldante e álcool intenso que, confesso, fez-me abanar.

O organismo humano é incrível e, como em outras situações, logo habituei-me ao ambiente causado por grandes alambiques de cobre a trabalhar a altas temperaturas e a destilar o álcool que vai encher as garrafas de Bushmills. Imaginem colocar o nariz num copo e inalar profundamente o aroma de whiskey forte… e tripliquem por três! Se há imagem cartão-postal de uma destilaria, esta era certamente a sala a retratar.

Bushmills Distillery Detail

Depois desta sala tudo se tornou mais fácil. Fui conduzida para uma exposição das várias gamas de Bushmills e aprendi o que distingue um whiskey novo de um velho.

Numa sala com fundos de pipas transparentes, foi explicado a perda de líquido com o envelhecimento nas barricas.

“Acreditamos na fada do whiskey. É ela que protege o nosso produto e que faz com que ele seja incrível. Claro que, por cada ano que o whiskey está na barrica, temos que pagar uma taxa à fada…”, explica John, apontando para os diferentes níveis registados no interior dos barris. Um whiskey novo apresentava uma barrica cheia, enquanto o de 21 anos já só tinha o barril meio cheio. Assim se justifica porque um whiskey velho é produzido em menos quantidade e mais caro que os restantes.

“Disse a mim mesmo que me oferecia uma garrafa destas caso a Irlanda do Norte ganhe o campeonato mundial de rugby”, afirmou John, esperançoso, mas sem grande confiança que um dia possa beber um copo deste líquido no aconchego da sua casa.

Foi também aqui que aprendi que a Bushmills usa barris de carvalhos oriundos de Portugal. Muitas das barricas onde o whiskey é envelhecido já serviram para maturar os conhecidos vinhos do Porto ou da Madeira. São os restos destes líquidos, impregnados na madeira, que dão a cor e até ajudam no sabor do whiskey Bushmills. E os americanos rapidamente olharam para mim com um olhar de aprovação.

Primeiro estranha-se…

Claro que nenhuma visita está completa sem o momento da prova e com o tour podíamos experimentar um dos whiskeys gama Bushmills… claro está que o de 21 anos não era opção.

Assim, e viajando com o Nuno, conseguimos pedir e provar dois diferentes: o Black Bush e o Bushmills 12 anos, um rótulo azul apenas comercializado no local.

Bushmills Tasting Prova
https://youtu.be/-CoIm3JcSOs
Espreitem como foi a minha prova na Bushmills

Confesso que provar um produto depois de aprender como ele é feito tem sempre um grande encanto. Com o whiskey não foi diferente. Apesar do meu palato negar instantaneamente o sabor, mal o primeiro golo entrava para a boca, a verdade é que não posso dizer que detestei. Ainda mais o de 12 anos, que se mostrou mais suave que o anterior.

Agora, se me perguntam se fiquei fã de whiskey… não creio que seja uma bebida que esteja sempre a pedir numa saída à noite ou num jantar de amigos. Talvez se tivesse provado o de 21 anos… 😉 Mas, sim, fiquei um pouco mais convencida. 🙂

A propósito, acabei por experimentar uma Guinness num bar chamado The Dark Horse, na Hill Street, em Belfast, e, sabem que mais… também gostei!

Guia de Viagem

O quê?

Visita guiada pela destilaria da Bushmills, na Irlanda do Norte.

Porquê visitar?

É a mais antiga destilaria de whiskey do mundo e uma experiência ímpar, principalmente para quem aprecia esta bebida.

Para além de ficarmos a conhecer todo o processo de produção de um dos whiskeys mais famosos do mercado, percebesse ainda a forte ligação desta fábrica à pequena terra com o mesmo nome.

Quando ir?

Como qualquer atração turística, é melhor fugir dos meses de verão, quando existem mais visitantes. Mas prepare-se para, mesmo assim, ainda encontrar bastante afluência ao local.

Tenha em conta o horário de funcionamento — segunda a sábado, 9:30 – 16:45, e domingo, 12:00 – 16:45 — e saiba que a destilaria encerra no período entre o natal e a passagem de ano.

Em todo o caso, consulte o site oficial para mais informações.

Como chegar?

Quer venha de Dublin ou de Belfast, pode sempre alugar carro e traçar rumo para a vila de Bushmills. Uma vez lá, as indicações são claras.

Pode ainda comprar um tour que muitas vezes inclui a visita à Bushmills e a ida até à Calçada dos Gigantes.

Onde ficar?

No meu caso, fiz a visita num dia de passagem por Bushmills, mas existem no local muitos alojamentos para ficar, caso queira ficar pela zona mais tempo e descobrir outras atrações turísticas nas redondezas.

Irlanda é conhecida pela cerveja, mas também pelo whiskey. Na Irlanda do Norte descobri a Bushmills, a mais antiga destilaria do mundo. Mas como é visitar o berço desta bebida quando nem se é apreciador? Saiba neste post.
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É apreciador de whiskey? Faria esta visita? Deixe a sua opinião na caixa de comentários em baixo. Vou adorar ler.

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Marlene On The Move

Marlene Marques

Marlene é a criadora do Marlene On The Move. Jornalista de profissão, criou o blog para partilhar as suas aventuras pelo Mundo. Não é raro partir à descoberta de novos países e culturas com a prancha de surf como bagagem.

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