Top
Projeto Biodiversidade, Ilha do Sal, Cabo Verde

Artur Lopes não é um viajante por si, mas se contarmos os km que já percorreu na Ilha do Sal, então, não há viajante maior.

Há mais de três anos que trabalha no Projeto Biodiversidade, uma ONG que co-fundou com outros profissionais ligados à conservação ambiental. A mesma opera em prol da preservação dos ecossistemas marinhos do Sal.

A minha última visita a esta ilha cabo-verdiana teve o intuito de conhecer e assistir ao nascimento das tartarugas marinhas. E, no âmbito do vídeo que fiz para o YouTube, falei com Artur Lopes para aprender mais sobre esta espécie animal e sobre o trabalho que o Projeto Biodiversidade tem desenvolvido ao longo dos anos.

Esta rubrica pretende entrevistar viajantes e partilhar as suas dicas de viagem. Porém, quis deixar na íntegra a conversa que tive com Artur, porque não só nos leva numa viagem pelo incrível percurso das tartarugas marinhas, como também deixa dicas de conservação para quem está a viajar e a visitar destinos como a Ilha do Sal.

Entrevista com Artur Lopes, co-fundador do Projeto Biodiversidade e responsável pelo programa das tartarugas marinhas

Entrevista com um dos co-fundadores do Projeto Biodiversidade na Ilha do Sal, Cabo Verde

Quantos tipos de tartarugas marinhas existem e quais podemos ver aqui na Ilha do Sal?

No mundo existem sete tipos diferentes de tartarugas marinhas. Na Ilha do Sal temos tido alguns ninhos de tartaruga-verde, mas poucos, tipo três ou quatro. Mas, no geral, o que se pode encontrar é a tartaruga-comum, que tem vários nomes: tartaruga-comum, tartaruga-castanha, tartaruga-de-boba, cujo nome cientifico é careta-careta.

Conta-nos um bocadinho a história do viveiro do Projeto Biodiversidade. Porque é que ele existe aqui [em Santa Maria, junto ao Hotel RIU]?

O viveiro existe aqui porque a praia, pelo desenvolvimento costeiro, tem muita poluição luminosa. Então, para proteger os ninhos [de tartarugas marinhas], temos de mudar da praia e colocar aqui. Nessa área inteira, se contas 5 km para cima e para baixo, temos que trazer todos os ninhos para esta área, porque não há uma área na praia onde podemos colocar os ninhos. Então, temos que os proteger nos viveiros de incubação.

Quantas vezes por ano é que as tartarugas marinhas vêm até esta costa para desovar e qual é o número aproximado de ovos que podemos contar neste viveiro?

Uh, ovos são muitos! A época de nidificação é entre junho e outubro. As tartarugas numa temporada podem fazer cinco ninhos, com, geralmente, uma média de 15 dias entre os ninhos.

Por média, temos entre 1.000, 1.200 ninhos. Se contares cerca de 80 ovos, a média de ovos por ninho de tartaruga, estamos a falar de 8.000 ovos.

E quantos desses é que podemos contar que sobrevivam para voltar aqui ao litoral do Sal outra vez?

Aqui o sucesso é muito bom, melhor do que na praia. Está entre 80% a 85%. Então, de 100 ovos, 85, mais ou menos, vão nascer.

Conta-nos um bocadinho sobre o papel do Projeto Biodiversidade na Ilha do Sal.

Na Ilha do Sal somos a única ONG que faz conservação. Trabalhamos com vários ecossistemas. Temos um programa marinho, que trabalha com os tubarões e o fundo marinho; temos pesca sustentável, onde trabalhamos com os pescadores e as peixeiras; temos o programa de conservação das tartarugas marinhas; depois, temos um programa de aves marinhas; trabalhamos com plantas também… então, fazemos quase tudo na Ilha do Sal.

E são projetos de monitorização? Ou seja, vocês monitorizam o número de espécies que existem aqui, ou que deixam de existir? Qual é esse vosso trabalho de campo?

Sim, fazemos monitorização, controlamos os ecossistemas, fazemos restauração também e fazemos a proteção dos mesmos.

Qual achas que é a maior conquista que vocês já fizeram ou estão a fazer como associação ambiental na Ilha do Sal?

A maior conquista diria que é o envolvimento comunitário. Ao longo dos anos temos lutado para conseguir o envolvimento comunitário, o que não tem sido fácil porque a ilha está sempre a mudar de pessoas. Aumenta, diminui, sem muito pessoal que é mesmo local. Então, o envolvimento comunitário é uma das conquistas.

Depois, o aumento do esforço da patrulha, que tem aumentado ao longo dos anos. O que quer dizer que estamos a proteger mais praias a cada ano e a diminuição da caça.

Agora que falas disso, este projeto também existe devido aos perigos que, neste caso das tartarugas marinhas, têm sido crescentes. Qual os perigos que consideras maiores que esta espécie enfrenta?

O maior perigo é a caça. O pessoal vai à praia e apanha as tartarugas para vender ou tirar a carne para consumir. Então, é o mais impactante. Se contarmos que apenas uma tartaruga em mil vai sobreviver e voltar daqui a 25, 30 anos, o impacto pode ser muito grande quando apanhas muitas tartarugas.

Depois, o desenvolvimento costeiro que está a danificar parte dos ecossistemas. A ilha é pequena e os hotéis ficam perto da praia. Então, cada vez que se constrói um hotel, tem um impacto grande no ecossistema.

Ouve-se hoje muito falar das alterações climáticas. Notas isso? Notas que já há efeitos que se estão a sentir das alterações climáticas que estamos a assistir nos últimos anos?

Sim, pode ver-se na dinâmica de algumas praias. Já faço conservação há três anos e consigo ver que a dinâmica da praia alterou, que as marés estão a mudar, estão a vir mais altas e está a apanhar mais parte da praia.

Está a ter impacto também na parte da desova, porque quando a maré sobe esta apanha muita parte da praia e está a danificar alguns dos ninhos.

Em termos de poluição, como tem sido a evolução em termos do plástico aqui na ilha, que é algo que tem afetado muito, nomeadamente ecossistemas que encontramos em ilhas?

O problema de Cabo Verde em geral é que não tem um sistema de reciclagem de resíduos. A maioria dos lixos que encontras na praia são os que vêm na corrente marinha, não é lixo produzido aqui. Não se faz reciclagem, mas também não se produz muito ao ponto de fazer poluição nas praias.

Porém, a maioria da costa norte, de onde vêm as correntes, fica cheia de plástico.

O que dirias que são três coisas que quem vem ao Sal pode fazer ajudar, nomeadamente as tartarugas marinhas? Quem está aqui de férias, o que pode fazer para ajudar?

Para ajudar-nos pode fazer uma doação, que pode ser em dinheiro ou material. Temos também uma coisa bonita que fazemos para a doação das tartarugas marinhas, onde tens um certificado que adotaste uma tartaruga. Tudo simbólico, claro, não podes levar a tartaruga para casa.

Em termos de atitudes, também podes, quando estás a visitar os lugares, ires com um guia que é certificado e que tem consciência ambiental. Ou quando estás a utilizar plástico, utilizar o mínimo possível porque, como já disse, não temos reciclagem e tudo o que consomes, fica aqui.

Estavas a dizer que há três anos que fazes este trabalho. Lembraste alguma história, algum momento que te tenha marcado?

Para mim, toda a vez que estás na praia e salvas uma tartaruga é uma motivação. Lembro-me que um dia apanharam uma tartaruga, mas não tínhamos carro para verificar. Quando arranjámos e fomos lá não encontrámos o rasto. Depois, notámos que o caçador tinha um cão e seguimos as pegadas do cão e encontrámos a tartaruga escondida numa rocha a 3 km.

Para terminar, quais são os objetivos do Projeto Biodiversidade para o futuro?

O objetivo é aumentar o esforço da monitorização, o envolvimento comunitário e também diminuir a caça.

Veja o vídeo sobre as tartarugas marinhas da Ilha do Sal

AS MINHAS FERRAMENTAS DE VIAGEm favoritas
Heymondo

Seguro de viagem com cobertura total e assistência 24h/7. Com -5% de desconto.

Holafly

Fica ligado com um eSIM, sem roaming, em mais de 160 destinos. Com -5% de desconto.

Skyscanner

Compara voos em segundos e encontra as melhores ofertas em todo o mundo.

Booking.com

Hotéis, apartamentos e estadias para todos os orçamentos e estilos de viagem.

Hostelworld

Hostels com as melhores classificações para aventuras diferentes e económicas.

GetYourGuide

Reserva tours e bilhetes para atrações com facilidade e cancelamento gratuito.

Discovercars

Aluga um carro em qualquer lugar com tarifas excelentes e opções de seguro completo.

Amazon

Artigos essenciais de viagem, desde gadgets a mochilas, tudo num só lugar: a minha loja.

Marlene é a criadora do Marlene On The Move. Jornalista de profissão, criou o blog para partilhar as suas aventuras pelo Mundo. Não é raro partir à descoberta de novos países e culturas com a prancha de surf como bagagem.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

0 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x