Não estava preparada para embarcar com Paul Theroux no seu Grande Bazar Ferroviário. Afinal, décadas nos separam. Mas fi-lo mesmo assim, sem saber o que me esperava.
Atravessar países como o Irão, o Afeganistão ou o Paquistão foi uma descoberta para mim, até porque a imagem que tinha destas nações é de guerra e destruição, tão contrária àquela que é descrita por Theroux.
A verdade é que ler O Grande Bazar Ferroviário é como ler uma reportagem do passado com olhos do presente, que, naquela altura, seriam do futuro.
Uma análise que acabou por me acompanhar por todo o livro.
Há locais piores para ler livros…
Países em estado cru
Confesso que a Índia de Paul Theroux chocou-me. Em grande parte porque o autor descreve o país que vive no meu imaginário: pobre, muito pobre. Com mendicidade em cada estação velha, suja, com prostituição, sem um apontamento de beleza que me levasse a querer acelerar uma visita.
Sei que, provavelmente, aos dias de hoje, a Índia já está diferente. Pelo menos vejo uma Índia diferente no relato de tantos amigos viajantes.
Mas ler Paul Theroux não ajudou à causa.
A leitura continuou e eis que surge o Ceilão. Aqui sim, tinha um termo de comparação, já que foi uma das minhas recentes viagens.
Foi fácil relacionar-me quando Theroux falou de Colombo, Kandi ou do Forte de Galle.
Mas, também aqui, o tempo que me separa do autor mostrou um Ceilão diferente daquele que conheci. Um Ceilão de gente amorfa, consumida pela fome e até de alguma malandragem.
A aversão entre os cingaleses e os tamiles, essa está bem presente no livro. Uma relação que mais tarde originaria os conflitos que ficaram para a história do país.
Viajar de comboio nas areias de Watu Karung, em Java, Indonésia
Seguindo viagem
Banguecoque: sexual, respirando sexo a cada esquina.
Singapura: uma modernidade chocante, querendo viver das aparências para captar investimento estrangeiro, mas escondendo uma profunda censura.
Os comboios de Theroux seguem viagem pelo Japão, pela Siberia, pela Russia e pela Alemanha. Diferentes países, diferentes povos. O mesmo som de carris que parecem acompanhar-nos na parte detrás da nossa mente à medida que desfolhamos O Grande Bazar Ferroviário.
[Tweet “”Os comboios de qualquer país contêm a parafernália essencial da respetiva cultura” – Paul Theroux”]
Comecei a ler este livro com um pé atrás, pensando o que poderia ter alguém tanto para escrever sobre viagens onde o cenário é quase sempre o mesmo: carruagens de comboio, com a paisagem a passar em fugida pelas janelas.
Mas Paul Theroux conseguiu descrever países inteiros, culturas e povos. Só a bordo desses comboios.
O Grande Bazar Ferroviário
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Já conhecem Os Passos de Santo António? Podem também ler a minha opinião sobre o livro mais recente do Gonçalo Cadilhe.
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2 COMMENTS
Catarina Gralha
6 anos agoTudo o que envolva comboios chama por mim. É o meu meio de transporte favorito, e sem dúvida que as viagens que mais me marcaram foram feitas de comboio. Por isso, um livro em que os carris e as carruagens estejam presentes terá sempre uma atenção especial da minha parte. Fiquei com imenso curiosidade em relação a esse Grande Bazar Ferroviário.
Apesar de a realidade se ter alterado ao longo dos anos (em alguns casos, para melhor), ler coisas que retratem uma outra época dá-nos um contexto e uma história mais aprofundados sobre daquele local. Já não é assim, mas já o foi, em tempos. E, para mim, conhecer o passado é tão importante como conhecer o presente.
Marlene Marques
6 anos ago AUTHOROlá, Catarina. Não podia concordar mais. Parte da magia dos livros é mesmo transportarem-nos para outros mundos e épocas. E, sim, este livro faz mesmo isso! Ainda bem que consegui despertar curiosidade para o leres. 🙂 Um beijinho e obrigada pelo teu comentário.