Chegou como uma bomba nuclear, como um cataclismo que avançou pelo mundo, como uma guerra sem rosto que se espalhou pelo planeta.
A pandemia, que teve início no final de 2019 na China, não tardou a bater-nos à porta. Mesmo àquelas mais isoladas no mundo.
Em Portugal temos sempre a falsa sensação que nada nos atinge, que neste pequeno canto à beira-mar plantado passamos sempre ao lado de todas as calamidades que costumam assolar os outros… nunca nós.
Mas a recente crise provocada pelo COVID-19 chegou também a solo português. A pandemia, que tinha o seu núcleo nos países asiáticos, passou a expressar-se de forma avassaladora na Europa. Portugal não é exceção.
Este mês vimos uma Itália a cair na desgraça; França e Alemanha a mostrar que os grandes também não saem ilesos; Espanha a entrar no abismo dia após dia e Portugal a seguir-lhe as pisadas (espero que em menor velocidade). O Reino Unido, fora da Europa, parece por enquanto (à data que escrevo este post) estar em negação que lhe vai acontecer o mesmo — ou pelo menos na mesma proporção — que aos seus ex-países-irmãos.
Mas uma pandemia não escolhe fronteiras e os Estados Unidos da América e Brasil, que até há pouco relativizavam o problema, já começaram a sentir as consequências do mesmo surto que a velha Europa vê-se grega em controlar.
América Latina, Austrália, Nova Zelândia, todos contam infetados e, por enquanto, o continente africano parece ser o que menos sofre… mas será mesmo assim? Ou será pouca capacidade de ler a situação que possivelmente já estão a viver? Espero que estejam mesmo com menos casos. África conta, infelizmente, no seu passado com um longo historial de epidemias, que esta bem que podia não lhes bater tanto à porta.
Seremos de novo viajantes
Com um cenário dos mais negros que eu, e possivelmente muitos de vós, alguma vez testemunhou, onde ficamos como viajantes? Em casa.
A nossa casa é talvez o local que mais tentamos evitar durante o ano porque nos está no sangue sermos nómadas, andar a saltitar de poiso em poiso, sempre à procura de novos destinos e locais para visitar. Mas o nosso lar é agora o melhor dos lugares para estar.
As organizações de saúde que estão a acompanhar o caso advertem que a propagação desta pandemia pode ser controlada se evitarmos o contacto social, se nos mantivermos em casa e nos abstivermos de lidar com outros humanos.
Em Portugal (onde até ao momento não foi decretada quarentena obrigatória), os nacionais têm aderido à quarentena voluntária. Estamos em trabalho remoto, a cuidar da família, a reaprender a lidar uns com os outros, a ganhar um novo amor pela cozinha e pela lide da casa, a encontrar novas formas de nos mantermos em forma.
É todo um novo Mundo Novo, o qual nós, viajantes, estamos também a redescobrir.
Até quando? Ninguém sabe. A incerteza é enorme. Mas uma coisa é segura: quando tudo isto passar o mundo vai precisar de nós, os viajantes. Vai precisar que compremos voos para outros países, que voltemos a ficar em alojamentos, a gastar dinheiro no comércio local, a frequentar restaurantes e bares, a ir a museus e a fazer tours.
Itália vai precisar que voltemos à Fonte de Trevi, em Roma, para lançar a moeda ou a andar nas gondolas de Veneza; França precisará de visitas ao Louvre, em Paris, e Espanha ao Reina Sofia, em Madrid; e Portugal? Necessitará que voltemos todos a viajar cá dentro e dos turistas a fazerem filas na Torre de Belém, em Lisboa, ou nos Clérigos, no Porto.
O turismo é motor económico de muitas nações, incluindo do meu país, e vamos todos precisar de voltar a viajar para que todos recuperemos desta crise.
Por ora, resta-nos deambular no interior da nossa casa. A trabalhar em novos textos, a passar tempo com a família, a ler livros de outros viajantes, a tratar as centenas de fotos de viagens passadas que nunca pensaram algum dia chegar a ver a luz do Lightroom.
O nosso dia de voltar a fazer a mala e partir para um novo destino vai chegar e esperemos que seja para breve.
Leave a Comment